quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Máxima dos Padres do Deserto (séculos IV e V)


"Certa vez, em Scété, um irmão cometeu uma falta. Convocou-se um conselho para o qual chamaram o abba Moisés, mas este recusou-se a comparecer. Então o padre mandou-lhe dizer: «Vem, porque toda a gente está à tua espera». Ele levantou-se, pegou numa cesta rota, encheu-a de areia, colocou-a aos ombros e foi assim. Os outros, que saíram ao seu encontro, perguntaram-lhe: «Que é isso, pai?» O ancião respondeu: «Os meus pecados vão-se derramando atrás de mim e eu nem consigo vê-los; e, no entanto, vim aqui hoje julgar os pecados de outrem». Ouvindo isto, não disseram nada ao irmão, mas perdoaram-lhe."

O passado continua a fornecer-nos tópicos de meditação que a voragem do presente nos tenta denegar. Por exemplo, neste passo o que poderá significar "pecados"? Não estará o ancião a sugerir que devemos reflectir sobre os nossos gestos, opiniões, asserções? Não digo "argumentos", já que estes exigem uma pausa, um tempo, por muito breve que seja, para os estruturarmos. São incompatíveis, portanto, com o sound-byte; o que não significa, obviamente, que um sound-byte não possa emergir no seio de um argumento. Agora, tomar a parte pelo todo será um erro. Por exemplo: caíram nele, ou propositada ou irreflectidamente, aqueles que se apressaram a atacar o discurso de Bento XVI em Ratisbone, ignorando, afinal, que estamos perante um notável argumento a favor do exercício da Razão.

Talvez por tudo isto sempre fui um apreciador dos poemas de Edward Taylor, em particular, das suas Meditations. Vale a pena voltar a elas para ver o que a intimidade pode significar. Afinal, ela pode ser algo bem diferente e bem mais profundo e intenso daquilo que as Revistas do Café Société (como lhes chamava Paul Bowles) nos transmitem.

A propósito, a Assírio & Alvim publicou há uns anos um livro com Reflexões e Máximas dos Padres do Deserto. Seu título é Ditos e Feitos dos Padres do Deserto. Podeis ver acima uma reprodução da sua capa.

Boas meditações!

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