segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sob o signo de Lou Reed,

mais propriamente de Halloween Parade, escrevi um minúsculo poema, intitulado Após a festa do
prazer
, que faz parte de Cidades de Refúgio, publicado em Outubro de 1991; faz, portanto, vinte e dois anos. São só cinco breves versos, mas com um fervilhar de tensões, da epidemia que então grassava (e que ecoava no texto de Lou Reed), à tensão irónica do título, colhido num poema de Melville, passando por uma boutade que encontrei num qualquer texto em prosa de Frank O'Hara. Porque os meus conhecimentos informáticos são medíocres, e eu sou incapaz de fazer mudança de linha neste novo template do blog, assinalo a mudança verso com a barra. O título, como referi, é Após a festa do prazer, e Halloween Parade surge como epígrafe. Voilà: "Amamos a vida, não/ a arte, dizia e/ uma ave/ rasgava o horizonte no/ limiar do seu olhar." Lou Reed, RIP! Boa semana!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

«Eu vim lançar fogo sobre a terra»

Frase retirada de Lucas 12,49-53: "Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!" Ora, a propósito da minha intervenção, amanhã, nas Jornadas de Teologia na Católica, uma amiga fazia os seguintes votos: "Que o Espírito Santo o inspire, pois, com as suas línguas de fogo." É, deste modo, pertinente reproduzir este passo colhido no Evangelho Quotidiano:
"Os símbolos do Espírito Santo: o fogo. Enquanto a água significava o nascimento e a fecundidade da vida dada no Espírito Santo, o fogo simboliza a energia transformadora dos actos do Espírito Santo. O profeta Elias, que «apareceu como um fogo e cuja palavra queimava como um facho ardente» (Ecli 48,1), pela sua oração faz descer o fogo do céu sobre o sacrifício do monte Carmelo, figura do fogo do Espírito Santo, que transforma aquilo em que toca. João Baptista, que «irá à frente do Senhor com o espírito e a força de Elias» (Lc 1,17), anuncia Cristo como Aquele que «há-de baptizar no Espírito Santo e no fogo» (Lc 3,16), aquele Espírito do qual Jesus dirá: «Eu vim lançar fogo sobre a terra e só quero que ele se tenha ateado!» (Lc 12,49) É sob a forma de línguas, «uma espécie de línguas de fogo», que o Espírito Santo repousa sobre os discípulos na manhã de Pentecostes e os enche de Si (Act 2,3-4). A tradição espiritual reterá este simbolismo do fogo como um dos mais expressivos da acção do Espírito Santo: «Não apagueis o Espírito!» (1Tes 5,19)."

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Jornadas de Teologia

Aqui fica o programa, com o convite para quem possa estar interessado:
10.00 – Abertura ALFREDO TEIXEIRA (Diretor do IUCR-FT) JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA (Diretor do CERC-FT, Vice-Reitor da UCP) 10.10 – Performance «O balão», Nuno Tovar de Lemos DANIELA VIEITAS 10.30 – Navegamos sem mapa? O testemunho cristão num mundo incerto D. MANUEL CLEMENTE , Patriarca de Lisboa Moderador: João Lourenço (Diretor da Faculdade de Teologia) 11.30 – O apelo da fé nos lugares de vulnerabilidade HENRIQUE JOAQUIM (FCH-UCP) ISABEL GALRIÇA NETO (Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz) JOSÉ MANUEL PEREIRA DE ALMEIDA (FT-UCP) Moderador: Clara Melo (ICS-UCP) 13.00 - Pausa 14.30 – O corpo: lugar (i)limitado? INÊS GIL (ULHT) ANTÓNIO MARTINS (FT-UCP) Moderador: Américo Pereira (FCH-UCP) 15.30 – Dizer Deus na precaridade das linguagens MÁRIO AVELAR (UA, CERC) ALFREDO TEIXEIRA (FT-UCP) Moderador: Guilherme Almeida e Brito (FCEE –UCP) 16.30 – Pausa 16.45 – Uma casa para Deus? A arte de habitar o provisório BORGES DE PINHO (FT-UCP) BERNARDO MIRANDA (ISCTE-IUL) Moderador: Luís Barreto Xavier (FD – UCP) 17.45 – O Evangelho da fragilidade: des-cobrindo a teologia de Paulo JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA (Diretor do CERC-FT, Vice-Reitor da UCP) Moderador: Alfredo Teixeira (Diretor do Instituto Universitário de Ciências Religiosas - UCP)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"Deu-lhe um amok!"

Esta era uma expressão que dizíamos, na minha adolescência,quando alguém (como se diria hoje) "se passava dos carretos". A sua origem está, como a rapaziada da minha idade sabe, no célebre livro de Stephan Zweig. Porque o meu pai tinha uma grande paixão por este autor, abundavam os livros dele, devidamente encadernados, na biblioteca familiar. Foi, por isso, um dos meus autores de adolescência (o que poderá explicar algumas disfunções...). Reli o Amok há algum tempo, assim como, entre outros, a biografia de José Fouché. Fi-lo
porque acho que a literatura, além de outras coisas, nos ensina a olhar melhor para a vida. De facto, ao ver o percurso de vida deste homem que, antes da revolução francesa foi um reaccionário assumido, com a revolução, foi o mais fervoroso dos revolucionários, e que, durante o resto da vida, andou sempre à tona de água, acolhendo as diferentes e contraditórias marés com notável capacidade de resistência, não pude deixar de pensar nos "Josés Fouchés" que pairam por aí, nomeadamente... no meu local de trabalho. Penso (lá vou eu consolidar pequenos ódios!) naqueles e naquelas que, ainda não há muito tempo, apoiavam quem queria transformar-nos numa espécie de novas oportunidades universitárias e que hoje são... adeptos da mudança de rumo a favor da investigação. Resta-me a consolação de que o Fouché acabou ostracizado por todos. Será que isto sucede aos "Fouchés" que por aí andam? Não necessariamente! Enfim, resta a lição de que a literatura tem virtudes pedagógicas... ainda que inesperadas. Aqui fica, portanto, a sugestão de leitura!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

"Blue Jasmine", um apontamento

dos Cahiers a propósito de... (um pausa em busca de adjectivos, mas ela é tão singularmente bela que o melhor é ficar pelas reticências...) Cate Blanchett no mais recente Woody Allen: "Peut-être Allen est-il devenu moins drôle que misanthrope. Mais il faut redire à quel point
l'amour d'un acteur peut parfois emporter un film. La prestation de Cate Blanchett, ahurissante, en vient même à disputer au cinéaste la 'paternité' de cette belle créature brisée qu'est Jasmine. Non contente d'atteindre un débit vocal à la Katharine Hepburn, Blanchett nous offre un véritable précis de vexation, alternant l'onctuosité de toute sa personne avec de subites crispations du corps et du regard, dans un grand déraillement progressif qui dit, sans jamais tomber dans l'hystérie, toute l'horreur et l'aveuglement consenti de son personnage face aux salissures du réel. L'art de la nunace et de l'altération, la blue note des jazzmen qui donne à Jasmine sa teinte, c'est bien elle qui les tient." Bons filmes!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A importância de uma matriz hoje

quando prevalece a indiferença da Europa e das suas instituições face a uma tragédia reincidente, o naufrágio em Lampedusa. Lembre-se este passo de Evangelho segundo S. Lucas 10,25-37: "Naquele tempo, levantou-se um doutor da Lei e perguntou a Jesus para O experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?»
O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: 'Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.' Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»" E veja-se o comentário de Bento XVI nesse belo texto que é Deus caritas est: A parábola do bom Samaritano (cf Lc 10,25-37) leva a dois esclarecimentos importantes. Enquanto o conceito de «próximo», até então, se referia essencialmente aos concidadãos e aos estrangeiros que se tinham estabelecido na terra de Israel, ou seja, à comunidade solidária de um país e de um povo, agora este limite é abolido. Qualquer um que necessite de mim e eu possa ajudá-lo, é o meu próximo. O conceito de próximo fica universalizado, sem deixar todavia de ser concreto. Apesar da sua extensão a todos os homens, não se reduz à expressão de um amor genérico e abstracto, em si mesmo pouco comprometedor, mas requer o meu empenho prático aqui e agora. Continua a ser tarefa da Igreja interpretar sempre de novo esta ligação entre distante e próximo na vida prática dos seus membros. É preciso, enfim, recordar de modo particular a grande parábola do Juízo final (cf Mt 25,31-46), onde o amor se torna o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade de uma vida humana. Jesus identifica-Se com os necessitados: famintos, sedentos, forasteiros, nus, enfermos, encarcerados. «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40). Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Ciberteologia

foi o tema da conferência de Antonio Spadaro proferida ontem à tarde. Hélas deixei em casa o meu caderno de notas, pelo que assisti à conferência com um misto de revolta (pelo esquecimento) e de impotência (pela manifesta incapacidade de guardar na memória todas as suas reflexões pertinentes). Em contrapartida, mal ela terminou desci a comprar o livro. E foi assim que passei o resto da tarde e o serão, sem interrupções (excepto para ver o episódio sete da 2ª temporada de Newsroom) a lê-lo; algo que concluí pouco depois da meia-noite. Deixo-vos um breve passo que, obviamente, tem a ver com a literatura; ou não fosse Spadaro, também, um estudioso da literatura anglo-americana:
"Foi o poeta Gerald Manley Hopkins que me ajudou a entender o papel da inovação tecnológica; o jazz fez-me entender o papel das redes sociais; os teólogos - de Tomás de Aquino a Teilhard de Cahrdin - esclareceram-me em relação às forças que tornam o homem actuante no mundo, participando da Criação, e que o elevam a uma meta que o supera, bem além de qualquer excesso cognitivo. É a pesquisa inesgotável de sentido que me fez entender o valor do cabo usb que tenho nas mãos. E sei que o meu iPad tem a ver com o meu desejo inextinguível de conhecer o mundo, enquanto o meu Galaxy Note me diz (mesmo quando está silencioso) que eu não sou feito para ficar sozinho. Mas é a poesia de Whitman que me dá o prazer do progresso. E é Eliot que me faz estar atento, para não cair nas suas armadilhas. Mas é também Flannery O'Connor que me faz entender que 'a graça habita mesmo no território do diabo' e, pouco a pouco, o invade. E, portanto, entendo que, mesmo vendo tanto mal na Rede, não posso parar e descansar sobre os louros de um juízo negativo, se..." Bom, fico por aqui, com os points de suspension, para vos aguçar o apetite. Boas leituras!