terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ainda as meditações


Como muitos de vós sabeis, as meditações tornaram-se numa espécie de sub-género poético na época colonial americana; integrava uma atitude face à vida e um processo de auto-avaliação sistemática através da palavra.
O que vos apresento é uma meditação, desta feita em prosa, da autoria do imprescindível Cardeal Newman. Ei-la:

Meditations and Devotions : Part III, 2, 2 «Our Lord refuses sympathy» 

«Muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes»
Poder-se-á dizer que a partilha profunda dos sentimentos é uma lei eterna,
porque ela tem significado, ou melhor, tem cumprimento, de forma
primordial, no amor recíproco e indizível da Trindade. Deus, infinitamente
uno, foi também sempre três pessoas. Desde sempre, Deus exulta no Filho e
no Espírito, e Eles n'Ele [...]. Quando o Filho Se fez carne, viveu durante
trinta anos com Maria e José, formando assim uma imagem da Trindade na
terra. [...]
Mas convinha que Aquele que havia de ser o verdadeiro Grande Sacerdote, e
de exercer esse ministério para toda a raça humana, estivesse livre de
laços e de sentimentos. Tal como se dissera antigamente que Melquisedec não
tinha pai nem mãe (He 7, 3). [...] Abandonar a mãe, gesto que Ele torna
plenamente significativo em Caná (Jo 2, 4), era portanto o primeiro passo
solene necessário ao cumprimento da salvação do mundo [...]. Jesus
renunciou não só a Maria e a José, mas também aos amigos secretos.. Quando
chegou o Seu tempo, teve de renunciar a todos eles.
Mas podemos supor que Ele estava em comunhão com os santos patriarcas que
haviam preparado e profetizado a Sua vinda. Numa ocasião solene, vimo-Lo a
falar durante toda a noite com Moisés e Elias sobre a Paixão. Que visão,
que pensamentos nos são então abertos acerca da pessoa de Jesus, de Quem
tão pouco sabemos! Quando Ele passava noites inteiras em oração [....], quem
melhor poderia apoiar o Senhor e dar-Lhe força do que essa «multidão
admirável» de profetas de quem Ele era o modelo e o cumprimento ? Ele podia
pois falar com Abraão, que exultara pensando que tinha visto o Seu dia (Jo
8, 56), e com Moisés [...], ou com David e Jeremias, que tão
particularmente O tinham prefigurado, ou com os que mais tinham falado com
Ele, como Isaías e Daniel. Encontrava nestes um fundo de grande simpatia.
Quando foi para Jerusalém, para o sofrimento último, todos os santos padres
da antiga aliança, cujos sacrifícios prefiguravam o Seu, vieram
invisivelmente ao Seu encontro."

Boas leituras e boas meditações!


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