quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Lincoln tinha "o estranho" hábito de falar por parábolas

Eis uma: Wa-al that reminds me of a party of Methodist parsons that was travelling in Illinois when I was a boy, and had a branch to cross that was pretty bad — ugly to cross, ye know, because the waters was up. And they got considerin’ and discussin’ how they should git across it, and they talked about it for two hours, and one on ’em thought they had ought to cross one way when they got there, and another another way, and they got quarrellin’ about it, till at last an old brother put in, and he says, says he, ‘Brethren, this here talk ain’t no use. I never cross a river until I come to it.’Onde terá ele ido buscar este hábito? Talvez também aqui: Jesus respondeu-lhes: «A vós foi dado a conhecer o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes propõe em parábolas, para que, ao olhar, olhem e não vejam, ao ouvir, oiçam e não compreendam; senão, convertiam-se e seriam perdoados». Disse-lhes ainda: «Se não compreendeis esta parábola, como haveis de compreender as outras parábolas? (Marcos 4)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Jessica Powers

é uma poeta americana do século XX, sobre a qual orientei uma dissertação de mestrado (escrita por João Banha Correia, se a memória não me falha!) já lá vão uns quinze anos. Convidei, então, para a arguir um colega de percurso académico, António Botelho de Amaral. O António ficou tão emocionado com a descoberta da poesia de Powers que, numa incursão pelos Estados Unidos, foi visitar lugares onde ela viveu, tendo conseguido mesmo contactar com pessoas que a conheceram. Nestes tempos de correrias, não raro ignoramos que a vida académica é também (e acima de tudo) feita de entrega, dádiva e paixão, como esta. Eis um poema de Jessica Powers: "I walk in a cloud of angels./ God has a throne in the secret of my soul./ I move, encircled by light,/ blinded by glowing faces,/ lost and bewildered in the motion of wings,/ stricken by music too sublime to bear./ Splendor is everywhere./ God is always enthroned on the cherubim,/ circled by seraphim./ Holy, holy, holy,/ wave upon wave of endless adoration./ I walk in a cloud of angels that/ worship Him."

Conversione di San Paolo

Pintada por Caravaggio em 1601 para a Capela Cerasi da Igreja de Santa Maria del Popolo, tendo como pando de fundo Actos dos Apóstolos 22,3-16. Eis um excerto deste passo: ... no caminho, ao aproximar-me de Damasco, por volta do meio-dia, de repente brilhou ao redor de mim uma intensa luz vinda do Céu. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, porque Me persegues?’. Eu perguntei: ‘Quem és Tu, Senhor?’. E Ele respondeu-me: ‘Eu sou Jesus Nazareno, a quem tu persegues’. Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz que me falava. Então perguntei: ‘Que hei-de fazer, Senhor?’. E o Senhor disse-me: ‘Levanta-te e vai a Damasco; lá te dirão tudo o que deves fazer’. Votos de uma boa semana.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Como ler um detalhe

(as figuras geométricas) em Guidoriccio da Fogliano, de Simone Martini. Eis a sugestão de Antonella Anedda em La vita dei detagli – Scomporre quadri, immaginare mondi: "Non solo stelle ma triangoli bruni, losanghe nere su stoffa ocra, nodi e rotelle: il mantello tartaro di Gerione nel XVII canto dell’Inferno."

Um derradeiro verso

de um poema escrito há muito: "Que seria das palavras sem o afago dos anjos?"

As asas do desejo...

palavras inspiradas de Rilke que flutuam na nossa memória: "Als das Kind Kind war, wußte es nicht, daß es Kind war, alles war ihm beseelt, und alle Seelen waren eins."

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

"«Será permitido ao sábado fazer bem...

... ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?». Mas eles ficaram calados." (Evangelho segundo S. Marcos 3,1-6). A propósito do Salmo 91,3,4-5,7, escreve Santo Hilário (c. 315-367): O Senhor trabalha no dia de sábado? Com certeza, de outra forma o céu desaparecia, a luz do sol apagava-se, a terra perdia consistência, todos os frutos perdiam a seiva e a vida dos homem perecia se, por causa do sábado, a força construtiva do universo deixasse de agir. Mas, de facto, não há qualquer interrupção; durante o sábado, tal como nos seis outros dias, os elementos do universo continuam a cumprir a sua função. Através deles, o Pai trabalha, pois, todo o tempo, actuando através do Filho que nasceu dele e por quem tudo isto é obra sua.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O sectário.

Ainda a propósito da campanha eleitoral, ou sobre as virtudes pedagógicas da poesia, eis um excerto do poema, em cinco partes, intitulado “T. C. (1568-1639)”, da autoria de Hans Magnus Enzensberger. O poema pertence a Mausoléu (Cotovia), cuja versão para português pertence a João Barrento. Eis o excerto, então: "O sectário é cego e surdo./ O seu percurso de vida está de tal modo dependente do acaso que ele pertence necessariamente aos seres vivos mais férteis; por isso, um sectário pode ter numerosa descendência./ A reprodução do sectário dá-se por segregação de membros, ovos, larvas, barbatanas, borbulhas, cápsulas, bolhas, areias./ A cura é sempre difícil porque, quando a cabeça do sectário não é eliminada, nasce rapidamente um corpo."

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Por favor, não percam

O Quarteto, de Heiner Müller, um belo texto que revisita outro belo texto. Chega-nos pela mão da superior inteligência estética de Jorge Silva Melo. Ivo Canelas confirma-se um dos nossos melhores actores contemporâneos. Sobre a peça referiu Silva Melo: "Isto não é uma adaptação do Laclos como é a peça do Christopher Hampton. Em termos musicais eu diria que são variações sobre o tema do Laclos. Ele pega nas personagens do Laclos que define mais ou menos no primeiro ato e depois põe-se a inventar. O próprio Heiner dizia: eu não fui reler a peça Ligações Perigosas, lembrava-me mais ou menos, porque eu gosto é de pegar num texto como os miúdos pegam numa boneca, desmontá-la toda e ver que lá dentro só há serradura e porcaria, e depois pego nisso para fazer o meu texto."

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A minha contribuição para o debate sobre as presidenciais

Hamlet fala com os coveiros (Acto V, cena i), na versão poética de Sophia e a imagem da versão fílmica de Grigori Kozintsev, com Innokenty Smoktunovsky como príncipe da Dinamarca: "Dantes esta caveira tinha língua e sabia cantar. E agora, olha, este patife atirou-a para o chão como se fosse a queixada de Caim, o primeiro assassino! Este crânio, que esse burro agora faz rolar, pode ter sido a cabeça de um político; talvez um daqueles políticos que julgam que têm influência em Deus?"

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

"Entra no quarto mais secreto" (Mateus 6,6)

Ou quando entrar no quarto mais secreto reside no aparente paradoxo de sair ao encontro do Outro. Despertares, epifanias em A Portrait of the Artist as a Young Man, de James Joyce: "He had wandered into a maze of narrow and dirty streets. From the foul lane ways he heard bursts of hoarse riot and wrangling and the drawling of drunken singers. He walked onward, undismayed, wondering whether he had strayed into the quarter of the jews. Women and girls dressed in long vivid gowns traversed the street from house to house. They were leisurely and perfumed. A trembling seized him and his eyes grew dim. The yellow gas flames arose before his troubled vision against the vapoury sky, burning as if before an altar. Before the doors and in the lighted halls groups were gathered arrayed as from some rite. He was in another world: he had awakened from a slumber of centuries."