sexta-feira, 10 de abril de 2015

Maldição da memória III

Disse ele um dia numa aula que o Professor Moser tinha uma memória onde tudo cabia. Porque neste espaço vou revelando o que de bom a minha memória vai conservando, devo reservar hoje umas linhas ao Salvato. A ele devo ter-me levado a descobrir aquele que, desde 1979, é o meu livro de cabeceira, Moby-Dick. E também Hawthorne, Dashiell Hammett, Herberto Helder e Carlos de Oliveira. Aquando da conferência sobre Shakespeare em Cascais, o António Feijó (outro amigo) disse – com toda a justeza - que o Salvato se distinguia dos outros pela sua generosidade. Ora, eu, que então ainda estudante e depois jovem assistente-estagiário, fui objecto dessa mesma generosidade (graças a ele pude estar perto – seria excessivo dizer “conviver”- com alguns dos nossos grandes escritores), estarei sempre grato a este amigo, Salvato Telles de Menezes.

Maldição da Memória II

Falei do Manuel Frias Martins como uma das pessoas que mais me influenciou no meu percurso universitário. Num plano diferente, já doutorado, por dois momentos tive a fortuna de acolher a experiência, a inteligência e a sabedoria do Barata Moura. A primeira, ainda na Faculdade, quando ele foi presidente do conselho científico e eu era coordenador da formação inicial de professores. Foi um processo de descoberta que durou dois anos e que me marcou enquanto dirigente. A segunda vez foi no início de 2006 – quando esta foto foi tirada – e eu me preparava para, a contragosto e sob pressões várias, assumir um determinado rumo profissional. A abordagem que então fez dos cenários que se me colocavam, apesar de breve, era ancorada na sua experiência enquanto investigador e enquanto reitor (cujas funções estavam prestes a terminar depois de ter lançado as bases para transformações profundas na minha alma mater). Graças a essa sua leitura pude tomar a opção que ainda hoje considero mais correcta e que me permitiu levar mais longe uma faceta que ele lamentava não ter podido desenvolvido tanto quanto desejava. Por isso, o meu reconhecimento a este amigo.

Maldição da Memória I

Nos outros meios não sei, mas no universitário, uma memória de elefante, como a minha, que retém pequenos episódios, breves conversas, e etc., pode ser uma maldição. Por isso, agora, quando somos inundados por toda uma plêiade de exegetas sobre HH, não posso deixar de recordar este livro de alguém que me marcou profundamente, Manuel Frias Martins. Não me esqueço de duas coisas ligadas à publicação, em 1983, deste seu ensaio sobre HH: 1) que o próprio poeta o elogiou, e que, neste venerável meio académico (lá vem a inveja), 2) assim se começou a balcanizar um dos melhores professores que tive na Faculdade. Abraço, Manuel.