quinta-feira, 26 de setembro de 2013

"De que lado estás?

Dos que só querem saber, como Heródes, ou dos que querem seguir e imitar, como Zaqueu?" Perguntava-se, hoje, no comentário a Lucas, 9/7-9. Esta pergunta levou-me a reler o prefácio de Alexandre Palma a Paciência com Deus, de Tomás Halík. Escreve ele sobre o que pode significar "ser Zaqueu" hoje, e, consequentemente, sobre o gesto "do pequeno Zaqueu, o cobrador de impostos que procurava ver Jesus"; sobre "a sua discreta curiosidade, aquela esperança muda, a timidez que o traz à distância":
"Na voragem da comunicação moderna, onde o (ab)uso da imagem e da palavra vai ao limite da sua própria corrupção; na contemporânea necessidade de aparecer para sobreviver, facilmente se empurram para as franjas os tímidos, os inseguros, os discretos, os calados. Ora Halík faz destas franjas, faz do que nelas se escondem, os protagonistas. (...) Fá-lo sobretudo para que se aprenda a lição destes Zaqueus: a inquietude interior, o espírito de busca não são um opcional do itinerário da fé." É, pois, pertinente a epígrafe colhida em Santo Ambrósio que Alexandre Palma escolheu para prólogo do seu texto: "Zaqueu no sicómoro é o fruto novo da nova estação".

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

"Definir o tempo pela sua qualidade"

No termo das férias importa reflectir sobre a noção de tempo. A propósito, transcrevo o excerto do texto que li no site da Pastoral da Cultura
. "«O tempo alcançou plenitude» (peplerotai o kairòs) - lê-se na proclamação inaugural de Jesus, segundo o relato de São Marcos (Mc 1,15). Olhando para a forma verbal empregue (a forma do perfeito, peplerôtai - alcançou plenitude, completou-se), vemos um tempo onde o cumprimento começou, mas que prossegue em efeitos que o presente e o futuro prolongam. Não se trata, portanto, de um tempo meramente pontual, para ser deglutido na vertigem do que passa. Nem é, de modo algum, um mero passar. A utilização que se faz aqui do lexema kairòs revela-se iluminante. Porque se usa, para designar este tempo aberto por Jesus, o substantivo kairòs em vez de chrónos? Há uma diferença entre ambos: o kairòs exprime uma qualidade do tempo; enquanto que chrónos designa a quantidade. O significado fundamental de kairòs é o de uma expressão decisiva do tempo, o seu ponto essencial, fugindo a um entendimento estritamente cronológico. Em autores antigos tão diversos como Sófocles ou Aristóteles, ou já na tradução grega da Bíblia hebraica, kairòs ganha, não raro, um sentido religioso, a ponto de coincidir com a revelação do próprio Deus. Essa é a perspetiva do Novo Testamento, que interpreta o tempo como lugar do irromper de Deus, propício e determinante. De facto, não é o tempo quantificado que dará alma ao mundo, mas o tempo qualificado pela decisão e pela experiência da graça e do dom."