sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Um passo de "The Lessons of the Masters"
A partir de Álvaro de Campos, escreve Bloom: "Campo's profession of faith entails the insight that 'the physical privilege of keeping company' with a Master-spirit is not granted to everyone. Only the privileged can journey to Rome knowing it will leave them transformed. 'Inferior people cannot have a master, since they have nothing for a master to be a master of."
É bem verdade.
Boas meditações!
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Encontros
Aconselho-vos a uma visita, hoje, a http://clarices-bichocarpinteiro.blogspot.com/
Aí podereis encontrar um testemunho sobre o reconhecimento que muitos de nós temos face àqueles/as que marcaram o nosso percurso intelectual, a nossa vida. Afinal, nem todos são Mestres, nem, necessariamente, é Mestre quem quer!
Depois de ler este testemunho, senti vontade de reler The Lessons of the Masters, de George Steiner.
Kierkegaard considera que não é difícil obrigar a parar alguém com quem nos cruzamos na rua para que lhe digamos aquilo que queremos. Difícil, sim, é dizer algo a alguém com quem nos cruzamos na rua, sem que esse alguém interrompa o seu percurso, e sem que nós próprios interrompamos o nosso percurso.
Contudo, quando esse encontro se verifica, ambos ficamos mais ricos. Além disso, embora os nossos pontos de vista possam ter sido perturbados, e foram-no por certo, a nossa liberdade não foi beliscada. Antes pelo contrário, ampliou-se devido ao reconhecimento da nossa ignorância.
Ora, aí está o segredo da relação pedagógica que nos interessa.
Polícias e/ou guardas pretorianos/as já há muitos/as por aí a dizer-nos que só há um caminho, o deles/as!
Boas recordações dos/as vossos/as Mestres/as!
Elegias
De facto aquilo que Springsteen faz é tomar numa das mais antigas tradições poéticas americanas, a elegia, e utilizá-la como instrumento de luto colectivo. Daí o facto de as canções desse Cd terem sido amiúde utilizadas em cerimónias de evocação de vítimas do 11 de Setembro.
Anne Bradstreet terá sido a primeira grande cultora do género; veja-se como a tonalidade elegíaca percorre os versos finais do poema que dedicou ao incêndio que destruiu a sua casa:
"A price so vast as is unknown,
Yet by his gift is made thine own.
There's wealth enough; I need no more.
Farewell, my pelf; farewell, my store.
The world no longer let me love;
My hope and Treasure lies above."
Há uma óbvia aceitação da desgraça, decorrente da ética puritana da qual Bradstreet participa.
É evidente que Springsteen não a subscreve; daí uma sensação de perda injustificada. Veja-se "My city in ruins":
"There is a blood red circle
On the cold dark ground
And the rain is falling down
The church door's thrown open
I can hear the organ's song
But the congregation's gone
My city of ruins
My city of ruins
Now the sweet bells of mercy
Drift through the evening trees
Young men on the corner
Like scattered leaves,
The boarded up windows,
The empty streets
While my brother's down on his knees
My city of ruins
My city of ruins
Come on, rise up! Come on, rise up!
Come on, rise up! Come on, rise up!
Come on, rise up! Come on, rise up!
Now's there's tears on the pillow
Darlin' where we slept
And you took my heart when you left
Without your sweet kiss
My soul is lost, my friend
Tell me how do I begin again?
My city's in ruins
My city's in ruins
Now with these hands,
With these hands,
With these hands,
I pray Lord
With these hands,
With these hands,
I pray for the strength, Lord
With these hands,
With these hands,
I pray for the faith, Lord
We pray for your love, Lord
We pray for the lost, Lord
We pray for this world, Lord
We pray for the strength, Lord
We pray for the strength, Lord
Come on
Come on
Come on, rise up"
Como se pode ver nesta "poetic of mourning" a esperança persiste.
Não me parece, por isso, que a expressão do luto possa ser confundida com "lamechice."
Boas músicas!
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
"Awaiting for you all", canção de All things must pass, de George Harrison, foi cantada no Concert for Bangladesh, e escolhida para abrir o cd dcoumentário sobre este concerto.
Se este foi o primeiro do género e abriu portas para muitos outros, ele foi, também, um dos primeiros onde se reuniram grandes estrelas da música popular dos anos sessenta/inícios de setenta.
Muito desses anos pode ser sentido neste evento.
"Awaiting for you all" evidencia algo de muito positivo que ali podemos sentir.
Eis alguns versos:
"You don’t need a love-in,
You don’t need a bad pan
You don’t need a horoscope or a microscope
To see the mess that you’re in
If you open up your heart,
You will see what I mean
You’ve been polluted so long
But here’s a way for you to get clean
By chanting the names of the lord
And you’ll be free
The Lord is awaiting on you all
To awaken and see
Chanting the names of the Lord
And you’ll be free
The Lord is awaiting on you all
To awaken and see
You don’t need a passport
You don’t need no visas
You don’t need to designate or to emigrate,
Before you can see Jesus
If you open your heart,
Then you will see he’s right there
He always was and will be
He’ll relieve you of all your cares
By chanting the names of the Lord
And you’ll be free..."
Boas músicas!
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Há quanto tempo se exerce a Razão sobre este Livro!
Eis o que o bispo, São Máximo de Turim (aqui ao lado, visualmente falando, claro!), já no século V d.C., meditava a propósito deste passo do Evangelho de Lucas, «É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e deitou no seu quintal». Atente-se no close reading avant new criticism:
"A propósito do que diz o Evangelho: «Um homem tomou-o e deitou-o no seu quintal», que homem é esse, em vossa opinião, que semeou o grão que recebeu, como um grão de mostarda no seu pequeno jardim? Penso que é aquele sobre o qual o Evangelho diz: «Um membro do Conselho, chamado José, natural de Arimateia [...], foi ter com Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus e,descendo-O da cruz, envolveu-O num lençol e depositou-O num sepulcro preparado no seu jardim» (Lc 23, 50-53). É por essa razão que as Escrituras dizem: «Um homem tomou-o e deitou-o no seu jardim». No jardim de José misturavam-se perfumes de diversas flores, mas um grão como aquele nunca lá tinha sido deitado. O jardim espiritual da sua alma rescendia ao perfume das suas virtudes, mas Cristo ainda não tinha sido aí colocado. Ao sepultar o Salvador no monumento do seu jardim, ele acolheu-O mais profundamente no fundo do seu coração."
Os itálicos são meus.
Bons close readings!
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
A bicicleta de Faulkner
Na narrativa que concebeu sobre a sua vida com Iris Murdoch, Iris, A Memoir of Iris Murdoch, John Bayley descreve a decadência daquela que foi uma das mentes mais brilhantes da cena literária inglesa do século XX, devido à doença de Alzheimer. Entre outros aspectos, Bayley refere a "expressão leonina" que será característica daqueles/as que sofrem dessa doença.
Não pude deixar de me lembrar desse passo quando, em A bicicleta de Faulkner, Maria do Céu Guerra exibe essa mesma expressão em determinado instante do processo degenerativo da sua personagem, também ela, vítima de Alzheimer.
Embora, na minha opinião, o texto de Heather MacDonald fique aquém das expectativas, visto não conseguir integrar organicamente Faulkner no texto e não explorar a dimensão da memória, tão relevante na cultura do Sul dos EUA, incentivo-vos a ir à Barraca.
A interpretação é equilibrada, destacando-se naturalmente a intensidade de Maria do Céu Guerra, a quem todos aqueles que gostam de teatro (e mesmo aqueles que não gostam!) tanto, tanto devem. Além disso, houve, para mim, uma revelação: a encenação de Rita Lello.
Não percam, portanto, e boa semana!
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
"Cinema ao contrário?"
E se, em vez de assistirmos ao desenvolvimento de um filme, à narrativa, aos movimentos da personagens, seus gestos, expressões, silêncios mesmo, assistíssemos às reacções de quem assiste, e do filme percepcionássemos apenas sons, vozes das personagens? Se tivéssemos de o reconstruir através dessas reacções e da oralidade narrativa?
Abbas Kiarostami propõe-nos esse exercício em Shirin.
Nele vemos desfilar os (belos) rostos de 115 actrizes (iranianas, com a excepção de Juliette Binoche), somos confrontados com as suas emoções, expressões de alegria, empatia e lágrimas, perante a história de Shirin - uma princesa persa do século XII - e dos seus amores com o nobre Khosrow.
E não há homens na assistência? Há, sim. No entanto, à semelhança da mulher com marcas de violência no rosto (índice de uma brutalidade masculina?), eles persistem em planos mais recuados. Afinal, esta é uma história que nelas reconhece uma empatia primeira.
Para já o filme foi exibido no Doclisboa.
Regressa às salas no início do próximo ano.
Não se esqueçam e não o percam!
Bons filmes!
Donne pelos olhos de Cristina Campo, com Dürer pelo meio, ou ainda como a arte nos ajuda a ler com o inevitável impulso da inteligência...
"A paisagem emblemática da poesia de John Donne assemelha-se à da Melancholia de Dürer: um repertório e um compêncio simbólico de todas as artes humanas e ocultas: livros, globos, histórias, balanças, esferas armilares, clépsidras, compassos e óculos. No fundo ruínas de catedrais e mosteiros ilustres em que agora crescem a hera e ervas, pedaços de cantos litúrgicos sobreviventes às procissões aos antigos santuários; tal como nas sublimes Variações Walsingham de Philips sobre as quais, nas festas da Corte, vai dando os seus passos esqueléticos a Rainha. Aí se misturam dobres de sinos e trompas de caça, flourish and fanfare,marchas fúnebres e acordes de cravo; a gíria do mercado e a do tribunal, os termos da sala de anatomia e o bichanar da alcova, o léxico subtil e marmóreo da teologia e o sussurro das fontes nos parques ingleses, o grito mitológico da mandrágora e o estribilho da ladainha, os especiosos sofismas do cortejador lascivo e a ternura grave do esposo. Tudo agredido, misturado com o modo casual e potente do grande teatro da época..."
Os Imperdoáveis (Assírio & Alvim), pp. 194-195.
Boas leituras!
Equívocos
Antes de mais, perdoai a má qualidade da imagem. O título do quadro, depositado no Museu de Belas Artes de Valência, é Caridade, e seu autor anónimo.
Trago-o porque ele me evocou as leituras sinuosas feitas em torno do final de Grapes of Wrath; leituras essas que acabaram por marcar profundamente Steinbeck.
A jovem que amamenta o velho faminto, entronca numa tradição ética e cultural, já antes indiciada ao longo da narrativa. Contrariamente ao que mentes mais sinuosas afirmaram, ocorre alí uma entrega radical ao Outro e não uma qualquer dimensão erótica como esses polícias que sempre existiram na crítica literária, na academia e nos media, pretende(ra)m fazer crer.
A arte, neste caso, ajuda-nos a ler o livro e a desmontar a ignorância.
Fascinante diálogo este!
Boas leituras!
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
O mesmo tópico, outra perspectiva
Também se intitula "The Dead", este poema de Jessica Powers, e, contudo, bem diferente é a percepção que ele nos transmite:
"The dead are always talking in their strange way,
At night when the winds are still, and dew grass
glistens
They are saying things that none should ever say,
And cursed is he who stands at their door and
listens.
Always they meet in a manner strange to see:
The crazy, the dead, and the myriad yet unborn.
And their words are cold as winds from eternity,
And their eyes are wise, and their faces all forlorn.
The dead are filling the young unborn with talk
Of wisdom dug from the mines of bitter years;
They are frightening crazy folk with thoughts that
walk
In the cold and dark, and nameless twisting fears.
I often join them when the lights are done,
And they see the weight of years on my foolish head;
When I am silent they think I'm a crazy one,
But when I talk they know that I am dead."
Boas leituras!
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Ainda o misticismo, agora com Jones Very
Jones Very pertenceu ao círculo transcendentalista. Conheci-o (uma vez mais, metonimicamente falando) durante o curso de Mestrado. Creio que, através dele, podemos tomar contacto com uma certa vertente mística que enforma dos equívocos que Emerson detecta em "The Poet" e que distinguiria os místicos (pelo menos estes) dos épicos. Very está tão longe de todos nós que, quando nos olha, vê apenas... mortos!
Eis "The Dead":
"I see them, crowd on crowd they walk the earth,
Dry leafless trees no autumn wind laid bare;
And in their nakedness find cause for mirth,
And all unclad would winter's rudeness dare;
No sap doth through their clattering branches flow,
Whence springing leaves and blossoms bright appear;
Their hearts the living God have ceased to know,
Who gives the springtime to th' expectant year.
They mimic life, as if from him to steal
His glow of health to paint the livid cheek;
They borrow words for thoughts they cannot feel,
That with a seeming heart their tongue may speak;
And in their show of life more dead they live
Than those that to the earth with many tears they give."
Talvez por estas e por outras tenha sido internado com o diagnóstico de loucura!
Louco ou não, vale a pena ler os seus versos e o seu ensaio sobre Shakespeare.
Boas leituras!
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Conheci Jessica Powers (1905-1988),
metonimicamente falando claro, ainda nos anos 90, através de um mestrando, João Banha Correia que, certo dia, me confidenciou ser seu desejo fazer a sua dissertação sobre Jessica Powers. "Jessica quê?" interroguei.
Nunca tinha ouvido falar desta poeta, freira carmelita, que nos desvenda os espaços americanos, rurais e urbanos (são intensíssimos os poemas sobre Chicago), com uma sensibilidade peculiar que entronca numa grande tradição que tem em São João da Cruz um cultor maior.
Apesar de lhe ter afirmado o meu desconhecimento acerca da poesia de Powers, e dos consequentes limites que tal implicava em termos de orientação, o João insistiu, insistiu, investigou, investigou, desvendou canais vários até alcançar bibliografia privilegiada sobre Powers.
Porque esta era uma voz que necessitava de um espírito disponível para a escutar, convidei um colega e amigo, António Botelho de Amaral, para arguir a dissertação. O António, que também nunca ouvira falar de Powers, foi entretanto aos Estados Unidos e meteu-se estrada fora em busca do convento onde a poeta vivera e morrera. Encontrou-o, falou com gente que com ela privara, e regressou para arguir a dissertação.
A discussão decorreu muito bem e, no fim, todos estávamos gratos ao João por nos ter feito descobrir Powers, e a Powers pelos seus versos.
É este o verdadeiro trabalho de investigação; ou, pelo menos, aquele que verdadeiramente nos interessa, pois, para além das funcionalidades (competências ? Ah! Ah! Ah!), abre-nos novas portas e torna-nos melhores.
O eduquês, na sua imensa ignorância, desconhece estas coisas!
E o mesmo se aplica àqueles ("you know what I mean!")que não conseguem ver nestas tradições para além daquilo que os seus limites ideológico-éticos lhes permitem...
Por tudo isto agradeço ao João por esta descoberta, e ao António por tê-la connosco partilhado.
Aqui vos deixo "Dreams of you", um belo poema sobre... enfim, para quê prefácios? Leiam-no and enjoy!
"My dreams of you are like the fallen leaves,
colored with brilliance, nomad rustling things,
tossed by winds of olden memories--
they prate of golden summertimes and springs.
When skies were gray you flung them all away--
but I, who loved them, hoard such gifts as these.
By day I revel in their golden lights;
at night they whisper tender sympathies."
Boas leituras!
Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão
e Doutor da Igreja, escreveu a propósito de um versículo do Salmo 118: "O Verbo sacode o preguiçoso e desperta o dorminhoco".
Infelizmente, nem sempre consegue produzir esse efeito, como se pode ver através da polémica (marketing!?!) mais recente.
De facto, ainda abundam por aí os preguiçosos (porque não querem evoluir da cartilha estalinista) e os dorminhocos (porque, afinal, ainda sonham viver nos tempos dos gulags; ou será que eles não existiram?).
Ou será um problema de inteligência?
Breve digressão:
há uns bons anos atrás dizia-me o Professor Joaquim Manuel Magalhães a propósito de um colega (que não era do nosso Departamento, esclareça-se!): "Inteligente? Até o meu gato é inteligente!"
Concluindo, porque não há nada como a leitura para combater o atrevimento da ignorância, deixo-vos uma sugestão, Koba - The Dread, de Martin Amis, uma narrativa onde a dimensão autobiográfica (edipiana?) e um dos momentos mais tenebrosos da História do século XX se confundem.
Afinal, a ignorância não é apenas atrevida; ela é, também, perigosa!
A propósito, o livro de Amis já foi traduzido para português!
Boas leituras!
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Intimidade(s)
Como mudam as noções de intimidade e como o diálogo com os textos sagrados podem delas participar!
Numa altura em que Saramago proclama mais um sonoro e bilioso disparate, e em que, por isso mesmo, urge reflectir com ponderação, conhecimento e bom senso sobre o papel dos textos sagrados cristãos (e não só, obviamente) na nossa História, na nossa cultura e no nosso quotidiano, deixo-vos este excerto do meu livro "O Nascimento de uma Nação - Nas origens da literatura americana", sobre a relação entre a Bíblia e a intimidade.
Porque para reflectir é necessário atentar às subtilezas, escolhi, hoje, um exemplo protestante, numa modulação puritana.
Isto é, deixo-vos o exemplo de Edward Taylor, " aquele que é por muitos considerado o maior poeta puritano da época colonial. Trinta anos mais novo do que Bradstreet, Taylor (c. 1642-1729) cresceu durante a ascensão do puritanismo ao poder em Inglaterra, a qual abandonaria por se recusar a aceitar o Act of Uniformity, imposto com a subida ao trono de Carlos II. Em 1668 partiu para o Novo Mundo levando consigo cartas de recomendação para uma acima referida proeminente figura do puritanismo colonial, Increase Mather. Após algum tempo de estudo em Harvard, aceitou um lugar como pastor em Westfield, uma comunidade no Massachusetts, a cerca de cento e cinquenta quilómetros a sudoeste de Boston.
Em 1671, após oito dias de viagem a cavalo, Taylor chegou à sua nova morada, onde ficaria até à data da sua morte. As contingências históricas (a Guerra do Rei Filipe), as circunstâncias geográficas (uma comunidade de fronteira) e a sua formação académica levaram-no a desempenhar ali funções destacadas, de estratega militar a lavrador, de guia espiritual a professor, e médico, até.
Ao longo dos anos Taylor seria responsável pelo Lord’s Supper. Na teologia puritana esta cerimónia desempenhava uma função de destaque, a par do baptismo, enquanto manifestação da Aliança da Graça (Covenant of Grace) entre Deus e os Homem.
A preparação dos sermões por parte de Taylor exigia, naturalmente, uma leitura atenta dos passos bíblicos, os quais funcionavam como leitmotif, independentemente das várias horas de estudo diárias às quais os pastores puritanos estavam obrigados (Meserole 119-23).
Semelhante leitura atenta exigia uma meditação em torno do eventual efeito especular desse passo na sua própria experiência; o tal escrutínio de si próprio acima referido. Seriam essas meditações regulares que dariam origem a um conjunto de poemas significativamente intitulados Preparatory Meditations que Taylor foi compondo durante esses anos.
Antes de morrer, deu instruções para que esses textos fossem destruídos. Apesar de essas instruções não terem sido respeitadas, os seus poemas (quatrocentas páginas manuscritas) só seriam identificados em 1937, na Biblioteca da Universidade de Yale. Não deixa de ser irónico que o maior poeta puritano só tenha vindo a ser conhecido mais de duzentos anos após a sua morte.
Por que razão terá Taylor determinado que estes poemas deveriam ser destruídos? Creio que o motivo fundamental reside no facto de eles revelarem uma excessiva intimidade.
Esta afirmação pode ser motivo de perplexidade perante uma primeira leitura desses poemas, nomeadamente devido ao ser carácter alusivo e barroco. Com efeito, em tempos como os nossos, em que a comunicação simula um radical literalismo e a tentativa de rasura da mais banal ressonância metafórica e em que os media exibem os, outrora, mais resguardados aspectos do quotidiano de políticos, artistas, será particularmente difícil compreender onde reside a intimidade das Meditações?
Para melhor a desvendar, proponho-lhe a leitura deste excerto de Meditation 2. 4. Gal 4. 24. Which things are an Allegorie
My Gracious Lord, I would thee gIory doe
But finde my Garden over grown with weeds:
My Soile is sandy; brambles o're it grow;
My Stock is stunted; branch no good Fruits breeds.
My Garden weed: Fatten my Soile, and prune
My Stock, and make it with thy gIory bloome.
Though I desire so much. I can't o're doe.
AlI that my Can contains, to nothing comes
When summed up, it onely Cyphers grows
Unless thou set thy Figures to my Sums.
Lord set thy Figure 'fore them, greate, or small.
... a revelação dos medos, das inseguranças do sujeito ... ocup[a]m [aqui] um lugar destacado. Recorde-se que o puritano vive sob a tensão inerente à dúvida de ter ou não sido tocado pela Graça divina (o tal Covenant of Grace). Acresce a este aspecto, no caso de Taylor, o facto de ele ser um membro destacado da comunidade, alguém que tem a seu cargo a condução do seu rebanho, tanto no óbvio plano espiritual, como nos aspectos práticos do dia-a-dia (a gestão dos assuntos da comunidade, as estratégias e funcionalidades inerentes à defesa, os cuidados com a saúde, a escola). O autor sente, assim, sobre si o peso de uma dupla responsabilidade.
No plano privado, íntimo, sente-se inseguro, mas, em público, perante a comunidade, durante o Lord Supper, ele surge como dirigente, e deverá estar confiante de si, para que os outros se reconheçam nessa sua segurança.
O sermão baseado na Epístola aos Gálatas 4. 24. deverá projectá-la. Mas e se Deus não o escolheu? E se na sua voz for Satanás quem se manifesta? Então, ele será uma fraude ética. Significa isso que, para além de estar destinado à Queda, poderá provocar a Queda dos membros da comunidade.
É esta tensão, esta dúvida interior, ausente do Sermão, que ele expressa nesta meditação (neste poema/oração)"
Boas leituras!
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Máxima dos Padres do Deserto (séculos IV e V)
O passado continua a fornecer-nos tópicos de meditação que a voragem do presente nos tenta denegar. Por exemplo, neste passo o que poderá significar "pecados"? Não estará o ancião a sugerir que devemos reflectir sobre os nossos gestos, opiniões, asserções? Não digo "argumentos", já que estes exigem uma pausa, um tempo, por muito breve que seja, para os estruturarmos. São incompatíveis, portanto, com o sound-byte; o que não significa, obviamente, que um sound-byte não possa emergir no seio de um argumento. Agora, tomar a parte pelo todo será um erro. Por exemplo: caíram nele, ou propositada ou irreflectidamente, aqueles que se apressaram a atacar o discurso de Bento XVI em Ratisbone, ignorando, afinal, que estamos perante um notável argumento a favor do exercício da Razão.
Talvez por tudo isto sempre fui um apreciador dos poemas de Edward Taylor, em particular, das suas Meditations. Vale a pena voltar a elas para ver o que a intimidade pode significar. Afinal, ela pode ser algo bem diferente e bem mais profundo e intenso daquilo que as Revistas do Café Société (como lhes chamava Paul Bowles) nos transmitem.
A propósito, a Assírio & Alvim publicou há uns anos um livro com Reflexões e Máximas dos Padres do Deserto. Seu título é Ditos e Feitos dos Padres do Deserto. Podeis ver acima uma reprodução da sua capa.
Boas meditações!
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Júbilo
é a palavra certa para expressar aquilo que sentimos quando alguém de quem gostamos e cuja obra significa algo para nós, é objecto de reconhecimento público.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Alegorias, a da prudência!
Gosto particularmente deste quadro.
Dele há leituras várias, não necessariamente contraditórias.
A mim sempre me interessou este racord com o Eclesiastes: há um tempo para tudo na vida.
Consequentemente, não devemos simular a inocência depois de a termos perdido (um terrível pecado, de acordo com Kierkegaard no Conceito de Angústia), simularmos a idade madura quando ela já lá vai, nem sermos velhos antes de tempo.
Afinal, como o quadro nos evidencia, todos os momentos da vida têm as suas virtudes.
Vivamo-los, então, de acordo com o que de bom eles nos podem oferecer.
Boas semana!
domingo, 11 de outubro de 2009
E sobre Austeriana...
Ou, como diria um pintor americano: kindred spirits!
Austeriana disse:
Do meu ponto de vista,se ainda existiam dúvidas quanto às capacidades estratégicas de Obama, o discurso do Cairo eliminou-as. O efeito surpresa no reconhecimento e valorização do islão, as citações "escolhidas a dedo",... inteligentíssimo.
Acresce que Obama consegue aliar empatia, sensibilidade a uma veia salobra (quando lhe pisam os "calos")que nos fazem acreditar em mudanças certeiras.
O Nobel foi bem merecido.
10 de Outubro de 2009 11:44"
sábado, 10 de outubro de 2009
Como Bianchi me ajudou a ler Obama
No artigo sobre o Nobel que escrevi para o DN, fui obviamente constrangido pelo número de caracteres exigidos. Um aspecto que apenas indiciei, e que foi nuclear na estruturação do meu discurso, é o argumento de Enzo Bianchi.
Passo a transcrever o texto que escrevi, tal como ele saiu no DN, e depois explico-me. Vampirizando a estratégia visual da minha amiga austeriana, vou recorrer a uma cor diferente para identificar o texto:
Ao regressar a casa à hora do almoço recebo a notícia: “Obama ganhou o prémio Nobel da Paz!” “Porquê?” Interrogo.
Ao tentar racionalizar esta atribuição, recordei as palavras do Professor Adriano Moreira que, sábio e lúcido como sempre, destacara algures o “Discurso do Cairo”, assinalando que ele seria uma peça retórica passível de figurar entre os momentos mais singulares da prosa política contemporânea, à semelhança do discurso de Kennedy em Berlim. Trata-se, com efeito, de um texto em que o diagnóstico das tensões mundiais contribui para a superação da dicotomia civilizacional, e de outras dicotomias dela decorrentes que marcaram as relações da América com o mundo nos últimos anos. Importante a este nível o seu reconhecimento do papel do islão na sociedade e na História americanas.
Com efeito, Obama recusa aí a dicotomia civilizacional, colocando, em contrapartida, a ética no centro dos conflitos com que o mundo hoje se confronta. Ao fazê-lo, pode ter aberto uma porta para uma ordem mundial na qual predomine o exercício da razão.
Estamos, portanto, perante a afirmação de um desejo de viragem na política externa americana.
É evidente que a Europa sempre acolheu Obama com uma empatia muito superior àquela que ele, mesmo em momentos de maior euforia, gozou no seu próprio país.
Quero, no entanto, acreditar que este prémio, embora tenha no passado pouco de visível para consagrar, como afirmou Lech Walesa, alguém que bem mereceu esta distinção; quero acreditar, dizia, que ele poderá ajudar a fomentar a tão urgente ética partilhada de que nos fala Enzo Bianchi.
Se o Prémio Nobel da Paz contribuir para um maior envolvimento da política externa americana na busca de entendimentos e soluções para os conflitos que a todos afectam, então poderemos concluir que a Academia Sueca não se deixou seduzir pela obama-mania europeia e que, pelo contrário, soube interpretar correctamente os sinais existentes nos discursos e na vontade do Presidente. Esperemos que a Academia tenha sido presciente como em tempos o foi ao premiar os esforços de paz de Willy Brandt.
Na conferência que proferiu na Universidade Católica, e que eu, na altura, evoquei, Bianchi fez referência a um artigo que escreveu para um jornal italiano no início dos anos 90, a propósito do choque das civilizações de Huntington.
Esta perspectiva retomava, afinal, aquela que décadas antes Malraux profetizara, a do século XXI como o do conflito entre o Ocidente cristão e o mundo islâmico.
Eu próprio retomei esta ideia de Malraux numa Oração de Sapiência que, há uns anos atrás, proferi no dia da minha Universidade.
Ora, a inovação que o argumento de Bianchi nos traz é a de introduzir a ética no seio do conflito. Deste modo, o que estaria em causa não seria um confronto civilizacional, mas sim de éticas, ou melhor, entre a ética e a sua ausência.
Consequentemente, não estaríamos perante duas civilizações que se degladiariam entre si, já que no seio do Outro civilizacional poderíamos reconhecer o Mesmo ético.
Quando Obama, no Discurso do Cairo, reconhece o islão como espaço do Mesmo e da construção da identidade americana, ele está, à semelhança do que protagonizara Bianchi, a introduzir a ética como núcleo de uma nova ordem e de um novo argumento.
Além disso, ele contribui para que a América se descentre, o que, conhecendo a História americana, sabemos que não é fácil.
Se com esta nova abordagem, uma pequena porta se abrir para as relações entre os povos, tanto melhor. Afinal, como escreve Leonard Dohen, "there is a crack in everything/ That's how the light gets in".
Bianchi estava correcto e resta-nos esperar que essa luz indiciada por Obama ilumine, de facto, novos caminhos.
Um bom fim de semana!
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Sensualidades
Birkin vs Bashkirova?
Jane Birkin esteve no CCB. Eu optei antes por ir ouvir a jovem Elena Bashkirova. Birkin está demasiado (intensamente) ligada ao imaginário da minha puberdade/adolescência para a poder revisitar nesta (minha e dela) idade. No entanto, quando daqui a vinte anos tivermos de lutar por um bilhete para ouvir Bashkirova, eu poderei dizer, como o faço agora com Anne Sofie von Otter, que a vi e ouvi ainda jovem e fugosa Elena.
República ou Monarquia?
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
"...também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende"
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Luís Cília foi uma voz que me acompanhou na adolescência
Era, contudo, no primeiro disco de Cília que se ouviam os famosos (para uma ínfima minoria) versos:
A edição que eu tive deste disco não foi, todavia, a primeira (que esgotara entretanto), mas sim a segunda.
Marcello sucedera entretanto a Salazar, e Cília alterara os versos:
"É sempre a mesma melodia
Salazar e a sua democracia
Com Caetano é a mesma porcaria
As moscas mudam só a merda não varia."
Lembrei-me destes últimos versos quando li no Público que, depois dos candidatos autárquicos que ofereciam electrodomésticos e bilhetes para espectáculos de variedades, havia agora quem oferecesse bicicletas.
Será verdade? Não creio...
Hélas!
Boas meditações!
terça-feira, 6 de outubro de 2009
A propósito do poema de Brecht
posted há uns dias, importa referir que o que ali se diz não deve, obviamente, ser tomado com um absoluto. Veja-se, por exemplo, como a arte de Hockney se alterou devido à sua descoberta do iphone:
"...he [Hockney]discovered one of those newfangled iPhone applications, entitled Brushes, which allows the user digitally to smear, or draw, or fingerpaint (it's not yet entirely clear what the proper verb should be for this novel activity), to create highly sophisticated full-color images directly on the device's screen, and then to archive or send them out by e-mail. Essentially, the Brushes application gives the user a full color-wheel spectrum, from which he can choose a specific color. He can then modify that color's hue along a range of darker to lighter, and go on to fill in the entire backdrop of the screen in that color, or else fashion subsequent brushstrokes, variously narrower or thicker, and more or less transparent, according to need, by dragging his finger across the screen, progressively layering the emerging image with as many such daubings as he desires."
Podeis ler o texto na íntegra em http://www.nybooks.com/articles/23176#
Boas leituras!
Pai babado
Novo livro do José Tolentino Mendonça
Ainda as meditações
Como muitos de vós sabeis, as meditações tornaram-se numa espécie de sub-género poético na época colonial americana; integrava uma atitude face à vida e um processo de auto-avaliação sistemática através da palavra.
O que vos apresento é uma meditação, desta feita em prosa, da autoria do imprescindível Cardeal Newman. Ei-la:
Meditations and Devotions : Part III, 2, 2 «Our Lord refuses sympathy»
«Muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes»
Poder-se-á dizer que a partilha profunda dos sentimentos é uma lei eterna,
porque ela tem significado, ou melhor, tem cumprimento, de forma
primordial, no amor recíproco e indizível da Trindade. Deus, infinitamente
uno, foi também sempre três pessoas. Desde sempre, Deus exulta no Filho e
no Espírito, e Eles n'Ele [...]. Quando o Filho Se fez carne, viveu durante
trinta anos com Maria e José, formando assim uma imagem da Trindade na
terra. [...]
Mas convinha que Aquele que havia de ser o verdadeiro Grande Sacerdote, e
de exercer esse ministério para toda a raça humana, estivesse livre de
laços e de sentimentos. Tal como se dissera antigamente que Melquisedec não
tinha pai nem mãe (He 7, 3). [...] Abandonar a mãe, gesto que Ele torna
plenamente significativo em Caná (Jo 2, 4), era portanto o primeiro passo
solene necessário ao cumprimento da salvação do mundo [...]. Jesus
renunciou não só a Maria e a José, mas também aos amigos secretos.. Quando
chegou o Seu tempo, teve de renunciar a todos eles.
Mas podemos supor que Ele estava em comunhão com os santos patriarcas que
haviam preparado e profetizado a Sua vinda. Numa ocasião solene, vimo-Lo a
falar durante toda a noite com Moisés e Elias sobre a Paixão. Que visão,
que pensamentos nos são então abertos acerca da pessoa de Jesus, de Quem
tão pouco sabemos! Quando Ele passava noites inteiras em oração [....], quem
melhor poderia apoiar o Senhor e dar-Lhe força do que essa «multidão
admirável» de profetas de quem Ele era o modelo e o cumprimento ? Ele podia
pois falar com Abraão, que exultara pensando que tinha visto o Seu dia (Jo
8, 56), e com Moisés [...], ou com David e Jeremias, que tão
particularmente O tinham prefigurado, ou com os que mais tinham falado com
Ele, como Isaías e Daniel. Encontrava nestes um fundo de grande simpatia.
Quando foi para Jerusalém, para o sofrimento último, todos os santos padres
da antiga aliança, cujos sacrifícios prefiguravam o Seu, vieram
invisivelmente ao Seu encontro."
Boas leituras e boas meditações!
sábado, 3 de outubro de 2009
Modernidades...
Meu avô já vivia numa época nova.
Meu neto talvez ainda viva na antiga.
A carne nova come-se com velhos garfos.
Época nova não a fizeram os automóveis
Nem os tanques
Nem os aviões sobre os telhados
Nem os bombardeiros.
As novas antenas continuaram a difundir as velhas asneiras.
A sabedoria continuou a passar de boca em boca."
Boas meditações!
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Archie Bunker is back
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
De novo as afinidades
Diferenças radicais (no sentido etimológico)
Enzo Bianchi (aqui à esquerda) esteve ontem na Universidade Católica para fazer uma conferência sobre "Ética Partilhada", tema do seu livro mais recentemente publicado entre nós, e que eu recomendo vivamente: Para uma ética partilhada, edições Pedra Angular.
Aí se encontra uma reflexão com a qual me confrontei desde o início da minha actividade como docente de Literatura e Cultura Americanas, a da distinção, no seio do cristianismo, entre uma cultura protestante e uma católica. Algo de essencial para entendermos a realidade diferente a estudar. Eis um passo:
"... após Constantino, o cristianismo foi o grande suporte ético-cultural de toda a sociedade ocidental. O êxito recente destes processos é constituído pela civil religion bastante difundida nas Igrejas de matriz evangélica nos Estados Unidos, mas estranho à grande tradição católica: a religião é olhada como factor útil a uma sociedade que, aparentemente, está cada vez mais fragmentária e esmorecida; serve quase de 'verniz', fornecendo à sociedade um 'suplemento de alma' que esta última, por si só, a mesma não pode proporcionar, oferecendo os valores de que tem necessidade para manter ordem e equilíbrio...
Estes fenómenos - hoje, comprendêmo-lo bem - são o resultado de um cristianismo expresso sobretudo como instituição eclesiástica, como religião cívica. Talvez a Igreja, nesta condição, consiga potenciar a sua influência na sociedade, mas seria decerto uma Igreja incapaz de assumir posições proféticas e corajosas, e mais incapaz ainda de transmitir o evangelho e a fé. Diga-se com clareza: a mensagem evangélica pretende ter princípios verdadeiramente não negociáveis, irrenunciáveis, como o perdão, o amor do inimigo, a defesa dos mais fracos, a política da paz. Nisto consiste a 'a-normalidade' política do cristianismo, que surge onde a mensagem do evangelho se opõe a toda a necessitas de poder humano, pelo que a relação entre política e cristianismo nunca pode ser estática nem resolvida de uma vez por todas. Mais ainda, os cristãos, apoiados na sua fé, são capazes de uma objecção de consciência às leis do Estado: esquece-se, com demasiada facilidade, que os cristãos, nos primeiros três séculos, praticaram a objecção de consciência ao serviço militar; excepto depois de serem integrados como religião do Império; esta instância tornou-se viva só a partir da segunda metade do século passado..." (pp.15-16)
Boas leituras!