terça-feira, 30 de novembro de 2010

"Fora com as coincidências"



é o título de uma canção - uma canção de que gosto muito - de Martinho Lucas Pires & Deserto Branco, na qual se usa de um notável sentido de humor para desmontar várias situações de pretensas coincidências no nosso quotidiano.
Lembrei-me dela a propósito do meu romance.
Em várias conversas que tenho tido com quem já o leu, sistematicamnte emerge a questão: "O Fernando é o...", ou "O Hipólito é o...", ou ainda "A Cacilda é a..."
Curiosamente, consoante o ponto de vista, ou o lugar onde cada um se encontra, a conclusão (a identificação) é distinta, chegando a ser gente que eu nem sequer conheço.
Quando este romance foi escrito (há quatro anos, sim, há quatro anos, ainda antes de Pentâmetros Jâmbicos ter sido publicado, e de muitos episódios menores terem ocorrido entre nós), resumi a intriga a um amigo conhecedor dos meandros políticos, o qual, de imediato, exclamou: "Mas então o Francisco é o..." e seguiu-se o nome de uma personagem secundária do nosso universo político, que eu conhecia apenas de esporádicas aparições na televisão, e cujo percurso de vida ignorava em absoluto.
De facto, este romance é uma sátira, e as personagens que o povoam não são transposições para o universo ficcional de gente que por aí anda.
Acima de tudo, o romance não é uma tentativa de ajustar contas com quem quer que seja!
Como disse aquando do lançamento, não tenho contas a ajustar com ninguém.
Graças a Deus, a minha vida tem seguido um percurso em que isso, o ajuste de contas, não tem lugar.
Seria mais tranquilo ler o romance como se ele nos revelasse meras alteridades.
Não é esse o caso!
Como também referi aquando do lançamento, Inveja - uma novela académica é uma sátira, um sátira àquilo que somos, ao tempo que vivemos.
Daí a minha escolha do Instituto Camões (na altura ninguém diria que a Dra. Simoneta da Luz Afonso iria abandonar a sua direcção) como espaço privilegiado para inserir a intiga, já que ele seria, no contexto da acção, e só nesse, um signo de um declínio cultural (veja-se como Melanie C. usurpa o lugar de Regianni).
Daí que eu próprio me tenha satirizado nessas linhas (quem conheça o que escrevi, poderá detectar esse instante).
Daí que eu entenda este romance como um espelho que revela, a todos nós, facetas que gostaríamos de denegar.
O resto são coincidências, como escreveu o Martinho!

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