sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Representação artística e ajuste de contas...


Existem inúmeras representações da morte de Holofernes às mãos de Judite.
A que mais me fascina é a do pintor italiano Cristofano Alllori (nascido sob o signo de Balança em 1577 – 1621) que aqui reproduzo.
À partida, esta representação é idêntica às outras existentes. No entanto, um olhar atento detectará uma ou duas peculiaridades.
Uma delas prende-se com o rosto algo sofredor de Holofernes - inconsistente com o seu carácter de vilão -, assim como a sua cor - para quem acabou de ser assassinado, a cor indicia mais a máscara da morte do que a sua representação.
Outra peculiaridade é a expressão fria de Judite, interpelando o espectador, pouco condicente com os traços que, segundo a lenda, a caracterizam.
Ora, informam-nos os estudiosos que, afinal, o rosto de Holofernes é um auto-rtetrato de Allori.
Judite é Mazafirra, uma bela jovem pela qual o pobre do pintor esteve apaixonado, e que lhe fez passar as passas do Algarve.
Por fim, a criada será a mãe da jovem.
A sogra!
Foi esta a forma que Allori escolheu para dizer ao mundo quanto sofrera às mãos de Mazafirra.
Eu, cá por mim... se isto se tivesse passado comigo, na minha algo distante juventude, teria optado por deixar tudo na maior obscuridade (pública) possível.
Acima de tudo, não contribuiria para passar à imortalidade quem me proporcionara, como diriam os trovadores, "uma coita de amor."
Assim se ajustam contas!
A derradeira, sim, a derradeira ironia consiste no facto de se ter perdido o rasto do quadro original, e de hoje existirem apenas duas cópias, uma em Florença (comme il faut!) e outra em Londres (inevitável!).
Mas, mesmo em cópia(s), Mazafirra aí está para termos sempre presente que Morrisey tinha razão quando dizia: "Pretty girls make graves!"

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