sexta-feira, 26 de março de 2010
Questões de identidade: o road runner somos nós?
Ou seremos nós o coiote?
Na minha infância, o road runner era uma presença habitual na televisão. O road runner, ou, como lhe chamava a tradução, o bip bip, ganhava sempre, com uma eficência tipicamente wasp; algo inodora e sensaborona até, diria.
Já o pobre do coiote, por mais artimanhas que concebesse, era um derrotado sistemático.
E, todavia, a nossa empatia era nele que recaía!
Embora, como em todos os processos heteronímicos, houvesse um bip bip dentro de nós; um bip bip que sonhasse voar estrada fora para além dos limites previsíveis.
Tenho para mim que nós, portugueses, somos como o coiote, sempre-engenhosos-eternos-derrotados que, no entanto, sonham ser velozes como o bip bip.
Sonham mas não conseguem!
Veja-se o exemplo do chefe das polícias que, qual bip bip, percorre a Avenida da Liberdade acima de toda velocidade legal e imaginariamente prevista, para acabar, qual coiote, feito em cacos junto aos Restauradores (ironia este nome na situação em causa).
Veja-se também a notícia que um jornal ontem transmitia: Costa e Portas apanhados a 160.
Não sei se estavam juntos ou se cada um tentou, por si só, bater um recorde. Quero acreditar que o tenham feito isoladamente.
Afianço, porém, que a notícia não estava bem redigida, já que deveria ter sido referido que Paulo e Portas tentaram ser bip bips e acabaram coiotes.
Esta notícia revela ainda uma profunda viurtude colectiva, visto esta (que a partir deste momento fica baptizada "síndrome do bip bip) não se confinar ao partido do governo mas ser também atributo da oposição. Quero, aliás, acreditar que, seja quem for que hoje saia vencedor das eleições no Psd, persistirá nesta nobre tentativa de tudo superar, embora se avizinhe que em coiote se transfigurará.
E assim se mostra como Camões estava equivocado, já que seu verso deveria rezar: "Erros nossos, má fortuna, quimera ardente!"
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