quarta-feira, 3 de março de 2010

Aquela cara não me era estranha!


Após algum tempo consegui identificá-la: era a cara do Sr. Carriço, o empregado da mercearia do Sr. Esteves.
Há décadas que a mercearia do Sr. Esteves deu lugar a um video-clube lá da terra.
O Sr. Esteves já faleceu há muito.
Quanto ao Sr. Carriço, bom, nunca mais voltei a vê-lo.
Até ao momento em que... a câmara da televisão o exibiu enquanto estava a assistir à audição de Manuela Moura Guedes na Comissão Parlamentar que averigua you know what.
Lá estava o velho Carriço, anafadinho e rosadinho, tal como o conhecera na infância.
Havia apenas uma pequena diferença: em vez do avental do costume, ostentava fato e gravata.
O Sr. Carriço demonstrava, porém, uma atitude mais afoita daquela que lhe era habitual quando se movimentava atrás do balcão, entre os depósitos do arroz e do feijão-frade.
Era, assim, afoito, que ele mandava umas bocas à Manuela Moura Guedes.
O Presidente da Comissão Parlamentar fez-me lembrar o Sr. Esteves quando puxava as orelhas ao pobre Carriço.
Este, calou-se.
A Manuela Moura Guedes perguntou quem é que ele era, pois não o conhecia.
Ele ficou algo vermelhusco.
Então ela não o conhecia?
Ele, um notável representante do povo!
Como é que era possível que alguém não o conhecesse?!
A minha mulher também não sabia quem é que ele era.
Eu, não!
Eu sabia: era o Sr. Carriço, afianço-vos!

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