terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A propósito da importância da fidelidade


esclarece D.Manuel Clemente numa entrevista. Eis a pergunta e a resposta do bispo do Porto:
"Qual foi o seu primeiro grande desafio depois de ter sido ordenado padre, a primeira “montanha” que lhe apareceu pela frente?
O desafio talvez tenha sido, foi certamente, o da fidelidade. Ou seja, tudo o que me aconteceu na adolescência, na juventude e no princípio da idade adulta, ainda era muito em tons de ideal e de idealismo, mas depois há a vida de todos os dias. E o maior desafio durante todos esses anos 80, que é a minha primeira década sacerdotal, foi o desafio da fidelidade: acreditar que a vida se joga muito mais na fidelidade às pequenas coisas de todos os dias do que propriamente em estar a idealizar que seria melhor doutra maneira. Em qualquer aplicação existencial é uma prova dura, mas absolutamente imprescindível."

De D. Manuel Clemente quero hoje destacar Portugal e os Portugueses, um livro que, na minha opinião, constitui uma das reflexões mais lúcidas sobre aquilo que podemos designar identidade portuguesa; um livro que deveria figurar a par com o clássico de António José Saraiva nas bibliografias das cadeiras de cultura portuguesa.

Aí escreve D. Manuel:
«É habitual insistir-se na nossa infinita capacidade de adaptação, seja aonde for. Pergunto-me se não se trata antes do contrário. Se não devíamos falar até da impossibilidade de deixarmos de ser quem somos, tal a densidade interior que acumulámos. Não temos de nos adaptar por aí além, porque já temos dentro e acumulados os infinitos aléns que nos formaram. Aqui, neste recanto ocidental do continente, sedimentaram-se, milénio após milénio, os variados povos que, do Norte de África ou do Leste da Europa, tiveram forçosamente de parar numa praia que só no século XV se transformou em cais de embarque. Aqui chegaram outros, que depois vieram e continuam a vir das mais diversas procedências. Tanta gente em tão pouco espaço só pode espraiar-se numa geografia universal. Assim foi e assim é.»
[excerto do primeiro capítulo]

Poderá haver quem diga ser este um livro pouco volumoso. Ora, deveria ser uma evidência que o volume, a extensão, não implica qualidade, e que um perfil intelectual (universitário, por exemplo) não se avalia pelo número de textos publicados, mas sim pelo impacto que um texto tem na sua área científica (será esta uma piada subliminar...?). Por isso, creio que Portugal e os Portugueses deve merecer um lugar nas bibliografias que acima referi; acima de tudo, este é um livro a ser lido por quem, para além da universidade, pretenda conhecer-se e conhecer-nos melhor.

Boas leituras!

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