quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Presenças do mito americano



Para a minha geração, o imaginário do faroeste marcou os verdes anos.
Independentemente de hoje em dia ser hábito dizer que as nossas simpatias tombam sobre os índios, não me recordo de, naqueles tempos, ser fácil encontrar quem quisesse engrossar as suas hostes, excepto, claro, se houvesse algum artefacto mais singular.
Ora, é exactamente desse imaginário, misturado com uma dose de romantismo do herói vagabundo tipo anos sessenta e setenta, que fala esta canção de De Gregori, Buffalo Bill, de seu título.
Um romantismo dos vagabundos que se encontra em Piazza Grande, de Lucio Dalla, por exemplo.
Quando a canção de De Gregori surgiu, houve quem a atacasse, acusando-a de aproveitamento político de um imaginário.
Acho o argumento simplesmente estúpido, em particular quando lemos atentamente o texto.
E ao lê-lo é toda uma percepção algo idealizada do mito que, para mim, se impõe.
Haverá algum mal nisso?
Aliás, que a idealização participa da construção do mito é algo que dificilmente será contrariado.
Um dado ainda a reter, particularmente relevante para a compreensão da forma como ela revisita o mito: De Gregori escreveu Buffalo Bill após ter visto o filme The Ballad of Cable Hogue de Sam Peckinpah.
No YouTube podereis ver versões da canção em concertos dos anos setenta.
Quanto ao texto deixo-o aqui com o convite à leitura, e não se esqueçam de trazer à mente aquilo que Francis Parkman escreveu sobre a fronteira:

"Il paese era molto giovane,
i soldati a cavallo erano la sua difesa.
Il verde brillante della prateria
dimostrava in maniera lampante l'esistenza di Dio,
del Dio che progetta la frontiera e costruisce la ferrovia.
A quel tempo io ero un ragazzo
che giocava a ramino, fischiava alle donne.
Credulone e romantico, con due baffi da uomo.
Se avessi potuto scegliere fra la vita e la morte,
fra la vita e la morte, avrei scelto l'America.

Tra bufalo e locomotiva la differenza salta agli occhi:
la locomotiva ha la strada segnata,
il bufalo può scartare di lato e cadere.
Questo decise la sorte del bufalo,
l'avvenire dei miei baffi e il mio mestiere.
Ora ti voglio dire: c'è chi uccide per rubare
e c'è chi uccide per amore,
il cacciatore uccide sempre per giocare,
io uccidevo per essere il migliore.
Mio padre guardiano di mucche,
mia madre una contadina.
Io, unico figlio biondo quasi come Gesù,
avevo pochi anni e vent'anni sembran pochi,
poi ti volti a guardarli e non li trovi più.
E mi ricordo infatti di un pomeriggio triste,
io, col mio amico 'Culo di gomma', famoso meccanico,
sul ciglio di una strada a contemplare l'America,
diminuzione dei cavalli, aumento dell'ottimismo.
Mi presentarono i miei cinquant'anni
e un contratto col circo 'Pacebbeene' a girare l'Europa.
E firmai, col mio nome e firmai,
e il mio nome era Bufalo Bill."

Sem comentários:

Enviar um comentário