segunda-feira, 28 de junho de 2010

A propósito das margens (III)



Como referi há dias, o contexto cultural/político/mental no qual os Pop Dell Arte emergiram, era ainda profundamente marcado por uma militância (político/mental)que nutria uma profunda suspeita face às margens e que era particularmente influente no seio da crítica musical (expressão demasiado elogiosa, diga-se, para quem, ontem tal como hoje, escreve sobre música sem saber ler uma pauta!).
Em particular, quando essas margens fugiam ao cânone e evocavam/invocavam as vanguardas estéticas ao mesmo tempo que criavam zonas nebulosas no campo da orientação sexual.
[É por essa razão que não posso deixar de rir às gargalhadas com as novas empatias face aos casamentos (como se diz hoje) gay.
Foram os antepassados desta gente que mandou para os gulags homossexuais e lésbicas, juntamente com judeus, recorde-se.
E para quem argumente que não houve gulags entre nós, basta lembrar o caso de Militão Ribeiro.]
Ora, os Pop Dell Arte traziam para este espaço puritano irreverências várias: o surrealismo francês, um certo cinema contemporâneo (a Fassbinder se deve, como é evidente, Querelle), e a dissonância introduzida por línguas não canónicas, como o francês (já na altura lateralizado) e o italiano.
Toda essa irreverência decorria de uma intensa capacidade indiciadora que perturbava quem estava habituado ao discurso literal de um neo-realismo tardio, à evidência do rock português e aos nacionalismos de direita.
Essa capacidade indiciadora mantém-se ainda hoje, e a ela voltarei noutro dia.
Boa semana!

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