segunda-feira, 14 de junho de 2010
A propósito das margens (I)
Numa das minhas juventudes (não é gralha, não, refiro-me aos tempos em que, segundo a taxinomia de Miguel Esteves Cardoso, era trintinho)acompanhei de perto a emergência de vários grupos que abanaram a cena musical portuguesa.
O velho bairro de Campo de Ourique, em particular um segundo andar na Rua Coelho da Rocha, foi o epicentro desse abanão.
Uma das coisas que caracterizava esses grupos e essas gentes era a estranheza das suas graças, fossem estas as das bandas que rondavam o nonsense (Mler Ife Dada - foto acima), a provocação ideológica (Santa Maria Gasolina em teu Ventre - foto acima) ou a subtil revolução de paradigmas culturais (a subversão da dicotomia entre «alta cultura» e «cultura popular» em Pop Dell'Arte - primeira foto acima); fossem estas as graças dos seus protagonistas (Sei Miguel - foto acima - ou o próprio João Peste, embora neste caso «Peste» fosse, efectivamente, uma graça familiar (breve parêntesis biográfico: João Guerreiro, reconhecido pedagogo, catedrático de Matemática, e notável humanista, era o pai do João Peste).
A Ama Romanta, uma editora «de vão de escada», emergiu para dar voz a estas vozes, antes de alguns (a maioria) se dissolverem ou de outros (nomeadamente os Pop Dell'Arte), ainda que provisoriamnete, integrarem o main stream discográfico.
De todos guardo os velhos vinis!
Importante, para mim, e por agora, é o facto de algo de lateral, algo que começou por se inscrever num grupo restrito, ter introduzido uma certa urbanidade de vanguarda até então ausente destes meios.
Algo que Al Berto e Mário Cesariny compreenderam ao convidarem o João Peste para o recital/espectáculo/concerto que realizaram na viragem para os anos 90.
Para sorte nossa, depois de muitas mortes anunciadas (lembro-me de uma delas, demasiado prematura, ter sido pressagiada logo após o célebre concerto dos Pop Dell'Arte na Aula Magna), o João Peste e os Pop Dell'Arte continuam a gozar de boa saúde criativa.
Uma pequena editora, um pequeno grupo, e, contudo, das margens algo emergiu perturbando o centro.
Poder-se-á considerar que algo de idêntico se passa nos dia que correm...
Mas isso fica para próxima.
Boa semana!
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