quinta-feira, 6 de maio de 2010
Contra o êduquês, uma noção de educação
"Desde os tempos de Platão, a educação não consiste no mero acúmulo de conhecimentos ou de habilidades, mas numa paideia, uma formação humana nas riquezas de uma tradição intelectual finalizada a uma vida virtuosa.
Se é verdade que as grandes universidades, que na Idade Média nasciam em toda a Europa, tendiam com confiança para o ideal da síntese de todos os saberes, isto estava sempre ao serviço de uma autêntica humanitas, ou seja, de uma perfeição do indivíduo no interior da unidade de uma sociedade bem ordenada. Deve ser assim também hoje: quando a compreensão da plenitude e unidade da verdade é despertada nos jovens, eles sentem o prazer de descobrir que a pergunta sobre o que eles podem conhecer lhes abre o horizonte da grande aventura sobre como devem ser e sobre o que devem realizar.
Há que ser reconquistada a ideia de uma formação integral, baseada sobre a unidade do conhecimento radicado na verdade. Isto pode contrastar a tendência, tão evidente na sociedade contemporânea, para uma fragmentação do saber. Com o crescimento maciço da informação e da tecnologia nasce a tentação de separar a razão da busca da verdade. Mas a razão, quando é separada da orientação humana fundamental para a verdade, começa a perder a própria direcção.
Ela acaba por se tornar insensível sob a aparência de modéstia, quando se contenta com o que é puramente parcial ou provisório, ou sob a aparência de certeza, quando impõe a capitulação às exigências de quantos dão de maneira indiscriminada igual valor praticamente a tudo. O relativismo que deriva disto gera um disfarce, por detrás do qual podem esconder-se novas ameaças à autonomia das instituições académicas.
Se por um lado passou a época da ingerência derivante do totalitarismo político, por outro, não é porventura verdade que com frequência hoje no mundo a prática da razão e a pesquisa académica são obrigadas — de modo subtil e por vezes nem tanto subtil — a resignar-se às pressões de grupos de interesses ideológicos e à ilusão de objectivos utilitaristas a curto prazo ou apenas pragmáticos? Que poderia acontecer se a nossa cultura se tivesse que construir a si mesma unicamente sobre argumentos que estão na moda, com escassa referência a uma tradição intelectual histórica genuína ou sobre as convicções que são promovidas com muito ruído e fortemente financiadas? O que poderia acontecer se, na ansiedade por manter uma secularização radical, acabasse por se separar das raízes que lhe dão vida? As nossas sociedades não se tornarão mais razoáveis ou tolerantes ou maleáveis, mas ao contrário, serão mais frágeis e menos inclusivas, e terão cada vez mais dificuldade em reconhecer o que é verdadeiro, nobre e bom."
Estas palavras foram proferidas por Bento XVI.
E depois digam que ele é reaccionário!
Bom dia!
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