segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
Livros recentemente (re)lidos, filmes recentemente (re)vistos
Revi ontem à noite Mr. Turner, e voltei a ser surpreendido com vários detalhes que, com o proverbial wit inglês, nos interpelam. Por exemplo, o trompe-l'oeil após o primeiro encontro com Ruskin. Conhecendo nós os desenhos deste último, de imediato pensamos ser aquela escarpa um desses mesmos desenhos por ele feitos em viagem; contudo, à medida que a câmara se afasta, constatamos ser aquela uma representação do real: a vida imita a arte? Talvez. E depois, aquele comentário de Turner, à mesa, ébrio, para Effie, a mulher de Ruskin - parece que fiquei obcecado por ele... Diz Turner qualquer coisa como "a felicidade ainda virá". Fora-de-campo ouve-se a voz de Ruskin. Sabendo nós que Effie era infeliz e que, em breve, iniciaria uma relação com o pintor pré-rafaelita John Everett Millais - Lembram-se do quadro The order of release?-, fica claro que, mais importante do que o estado de Turner, é a narrativa familiar que ele, instintivo como sempre - lembram-se da cena no Salon?-, desvenda. Quantas mensagens subliminares. Por fim, e depois calo-me, tantos interiores que Mike Leigh filma como se de quadros de Vermeer - a luz, o enquadramento, os objectos, a personagem solitária no plano/quadro - se tratasse. E há mais, claro. Muito mais! Não percam!
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