segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
"Eu só falo crítica..."
cito eu no topo deste blog. Por que razão? Porque concebi este espaço como prolongamento do diálogo com alunos presentes e passados (e futuros... quem sabe?).
A ele se juntam, se assim o quiserem, aqueles que nele reconhecerem alguma afinidade.
Evito, portanto, os comentários sobre o quotidiano político, mesmo quando isso significa um exercício de radical contenção.
Ora, este comentário, apesar de estar relacionado com a "noite eleitoral", não encerra uma apreciação política tout court, antes... semiótica.
Refiro-me a um sorriso, seguido de encolher de ombros de Ricardo Costa, director do Expresso.
Comentava ele, no painel da SIC, as confusões geradas pelo choque tecnológico (melhor seria dizer derrapagem, à qual se seguiu um choque... se foi tecnológico ou não, ignoro) que impediu muitos cidadãos de votar.
Interrompeu Clara de Sousa para questionar se não deveriam ser exigidas responsabilidades face ao acontecido. Como referi, Ricardo Costa sorriu, então, e encolheu os ombros.
José Miguel Júdice ripostou que seria a primeira vez que tal se faria!
Não creio que este detalhe tenha sido objecto de apreciação, e muito menos que tenha ficado entre os momentos a recordar da noite passada.
Contudo, o estudo da literatura, dos detalhes sintácticos, das modulações semânticas, das ressonâncias culturais, leva-nos a valorizá-lo, já que esse estudo ajuda-nos a desenvolver um culto, um elevado culto, acrescentaria, o culto da atenção ao detalhe.
Ora, aquele sorriso e aquele gesto foram, por certo, perceptíveis a quem tenha o olhar moldado pelo exercício da leitura.
Num país de cidadania activa, teria sido exigida a dimensão do responsável. Não, não me refiro ao presidente da CNE, mas sim daquele cavalheiro que, do alto da sua função governativa, se dirige a nós com uma voz melosa como quem fala para imberbes criancinhas; uma versão soft da ministra da educação, diria eu.
Mas não, entre nós, como é hábito dizer, "a culpa morre solteira."
Por isso nos habituámos a fazer como o Ricardo Costa, sorrimos e encolhemos os ombros.
Até quando?
Entretanto vai-nos valendo a semiótica ao ajudar-nos a ler os pequenos/grandes detalhes deste nosso quotidiano.
Viva a semiótica, portanto!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Se bem que a semiótica possa dar uma "ajudinha", o nosso quotidiano tem-nos ajudado/ensinado a ler "os pequenos/grandes detalhes".
ResponderEliminar