sexta-feira, 2 de julho de 2010

Descobertas da alteridade


"Enquanto nos movemos entre as ruínas de Persépolis, tentando reconstruir com a imaginação as salas que acolheram os príncipes do reino, o palácio de Dario, o palácio de Xerxes; enquanto damos vida a este vazio com a multidão daqueles que o povoaram um dia e agora estão não sabemos onde, pó nos túmulos, pó disseminado nos cumes das montanhas, pó nas moradas sonoras do céu - continuamos a perguntar que cidade foi esta. Não foi criada para recolher nos seus caminhos ou ao longo das margens do rio, a corrente de todos os comércios: não foi criada para governar a administrar um estado; nem para que nos seus templos se erguessem orações aos deuses, e muito menos para ser habitada. Persépolis é uma cidade única no mundo, e para lá de todos os conceitos, prévios e posteriores, uma cidade exclusivamente simbólica. As suas colunas, os seus animais alados, os seus monstros, os seus cortejos, os seus guardiães, representam uma alegoria na qual o império persa deveria reconhecer-se. Assim nos prece justo que o pretexto da criação de Persépolis esteja envolto em algo que aconteceu há dois mil e quinhentos anos, nas regiões do céu."

Palavras de Pietro Citati, em A Primavera do Rei Cosroe - vinte séculos de civilização iraniana (Assírio & Alvim, 2010), relevantes para compreender as alteridades com as quais os nossos quotidianos se cruzam. Em particular quando estas significam discursos civilizacionais milenares!

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