terça-feira, 26 de maio de 2009

Quando na adolescência li (Graças a Deus) compulsivamente

Os Lusíadas, confesso que, contrariamente à generalidade dos rapazes, a quem a gesta épica dos doze de Inglaterra apelava, ou das raparigas, a quem o pathos do episódio de Inês sensibilizava, ou de ambos, quando [assumidamente (caso dos rapazes), ou não assumidamente (caso das raparigas)] iam o encontro do então denegado Canto IX, quem mais me impressionou foi uma figura que estes tempos de yuppies saloios europeistas incultos de laptop e blackberry convictos tem sido sistematicamente treslida.
Refiro-me, obviamente, ao venerando Velho do Restelo; apesar de naquela altura naturalmente ignorar (como esses yuppies continuam a ignorar) que ele figurava antecipadamente a "soul" de Whitman, ou o superego de Freud (outro Touro).
Em homenagem à minha reiterada paixão por essa tão lúcida presença, aqui ficam as estrofes 94 e 95 do Canto IV:

94
Mas um velho, de aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A vós pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
Cum saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
95
«- Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
Cüa aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama.
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles exprimentas!

Bom dia!

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