Bem sei que este espaço é dedicado, essencialmente, aos/às iluminados/as nas virtudes anglo-saxónicas, mas que diálogo não se justificaria mais, neste âmbito, do que aquele que se opera interartes e que, acima de tudo, tem os textos sagrados como pano de fundo?
Por isso, a propósito de um outro diálogo [com uma aluna minha de Estudos Europeus], deixo esta leitura de um episódio de Lucas, feita por José Tolentino Mendonça.
Atente-se na ênfase na linguagem plástica dos textos sagrados, na dimensão performativa [coreografia humilde] e no exercício da razão evidenciado em sente [lembre-se António Damásio]:
"É difícil permanecer indiferente ao trânsito desta personagem [uma pecadora] que nos é descrito [Lucas 37-39] num impressionante regime de showing. A mulher entra e sai em silêncio, mas o leitor sente que a sua passagem se revestiu de uma eloquência ímpar. Em vez de palavras ela utilizou uma linguagem plástica, talvez mais contundente que a verbal. Representou, como actriz solitária, no palco da casa do fariseu, o seu monólogo ferido: com o seu pranto prolongado, os cabelos a arrastar-se pelo chão do hóspede, numa coreografia humilde e lancinante, os beijos e o perfume que mais ninguém ali teve a preocupação de ofertar a Jesus." (p. 93)
A obra de José Tolentino Mendonça que citei, intitula-se A construção de Jesus (Lisboa: Assírio & Alvim, 2004).
Boas leituras!
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário