segunda-feira, 7 de abril de 2014

Relevante ou não?

Esta é a questão a que os "camusianos encartados" não terão dúvidas em responder: claro que não! Refiro-me à primeira secção dos Journaux de Voyage, dedicada à viagem e estadia de Albert Camus na land of the free, and home of the brave. Contudo, quando olhamos com atenção para a forma como ele vai percepcionando a singularidade daquele espaço, de imediato constatamos que não é necessário escrever muito para dizer coisas interessantes... e argutas. Numa conferência sobre estes textos, com que encerrou o colóquio sobre Camus em Évora no final do ano passado, abordei a importância que assume a sua leitura do detalhe (sim, eu sei que é um galicismo) para o desvendar daquela singularidade. Deixo-vos um excerto significativo a este nível, e depois, porque peguei nesse livro deliciosamente fascinante que é L'Amérique au jour le jour, de Simone de Beauvoir, vou-me sentar tranquilamente a relê-lo e, perdoem-me a anacronia, a ouvir o Francesco De Gregori. Aqui fica o tal excerto: "Au premier regard, hideuse ville inhumaine. Mais je sais qu’on change d’avis. Ce sont des détails qui me frappent : que les ramasseurs d’ordures portent des gants, que la circulation est disciplinée, sans intervention d’agents aux carrefours, etc., que personne n’a jamais de monnaie dans ce pays et que tout le monde a l’air de sortir d’un film de série. Le soir, traversant Broadway en taxi, fatigué et fiévreux, je suis littéralement abasourdi par la foire lumineuse."

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