segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Les adieux à la reine

É obviamente difícil filmar algo que está saturado quer no plano visual quer no plano tópico. Refiro-me, respectivamente, a um espaço profundamente revisitado, o palácio de Versalhes, e a uma personagem, Maria Antonieta. Ora, este filme de Benoît Jacquot consegue superar essa saturação. Relativamente ao espaço, Jacquot (devedor do romance de Chantal Thomas) opta pelos espaço ignorados (não celebrados pelo cinema) de Versalhes: estreitos e mal iluminados corredores, pequenos (minúsculos) quartos, cozinhas da criadagem (a cor, ai a cor, às vezes fazendo lembrar Caravaggio!). A vertigem daqueles dias em que a catástrofe se avizinha, acompanha o percurso por aqueles espaços, apoiado no sussurro, as vozes que denunciam o temor face aos tempos que se avizinham. É destas margens ao nível do espaço que emerge um olhar, também ele das margens (esquecido) sobre Maria Antonieta, o de uma personagem menor (faz lembrar como Alexandre é visto através do olhar de Bagoas em O jovem Persa, de Mary Renault): o olhar da jovem órfã, Sidonie, a jovem cuja função naquela complexa estrutura social é a de ler para a rainha. É, deste modo, através de uma percepção outra que o poder emerge. Peço-vos que não percam este filme. Boa semana!

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