terça-feira, 18 de outubro de 2011

Estai atentos



a duas séries em exibição nos canais por cabo: uma delas, Treme, sobre New Orleans, na sequência do furacão; outra, Downton Abbey, sobre uma família inglesa aristocrática, confrontada com a emergência da classe-média, com os seus hábitos estranhos, como trabalhar, e com os conceitos não menos estranhos, bizarros, até, como o de "fim de semana". "O que é isso?" pergunta Maggie Smith, habituada que estava a que, como dizia o Morrisey, "everyday is like Sunday".
Quando estive em New Orleans há vinte e tal anos, uma residente mencionou-me uma máxima que poderá ser considerada uma versão americana da nossa o país é Lisboa, o resto é paisagem; seria ela: The US is New York, San Francisco and New Orleans; all the rest is Cleveland.
Para além do French Quarter, com a sua Bourbon Street (e o inevitável Preservation Hall, na série fechado a cadeado), não se podem esquecer os inevitáveis cemitérios (a minha geração lembrará, certamente, a cena psicadélica em Easy Rider) [referi-os aquando de uma entrevista para a DN Magazine após a catástrofe (curiosamente, o jornalista usou depois uma foto de um cemitério inundado para a capa da revista)].
Todas as tensões e mutações inerentes ao tempo da reconstrução recente, estão ali presentes.
Qualidade da HBO, a não perder!
Por seu turno, Downton Abbey surge na esteira da famosa Família Bellamy (graça portuguesa de Upstairs, Downstairs). É um cliché falar-se da qualidade das séries "históricas" britânicas. Cliché, et pourtant, verdade! E depois há a já mencionada inefável Maggie Smith que, do alto dos seus oitenta e tal anos, ainda nos assusta quando olha para a câmara (e me faz lembrar senhoras de "sangue azul" que conheci na juventude). As subtilezas dos dois microcosmos em confronto - "senhores" e "criadagem", e as tensões no seio de cada um desses microcosmos!
Embora não sendo da BBC (cliché!), aplica-se outro cliché: a não perder, também!
E por hoje basta de clichés!
Boas séries!

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