sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Meditações
A poesia colonial (penso nas colónias americanas, claro) puritana, a poesia de Anne Bradstreet e Edward Taylor (aqui ao lado), em especial, revelam de que forma a meditação passa pela leitura dos textos sagrados enquanto impulso para a avaliação do sujeito.
Daí que um crítico tenha dito serem estes hermeneutas compulsivos.
Veja-se, por exemplo, estas estrofes iniciais de uma meditação suscitada pelo versículo de Ezequiel (37:24) "David my Servant shall be their King":
Dull, dull indeed! What, shall it e'er be thus?
And why? Are not Thy promises, my Lord,
Rich, quick'ning things? How should my full cheeks blush
To find me thus? And those a lifeless word?
My heart is heedless: unconcerned hereat:
I find my spirits spiritless and flat.
Thou court'st mine eyes in sparkling colors bright,
Most bright indeed, and soul-enamouring,
With the most shining sun, whose beams did smite
Me with delightful smiles to make me spring.
Embellished knots of love assault my mind,
Which still is dull, as if this sun n'er shined.
Porque não aprender algo com eles, para além do fruir estético?
Veja-se, por exemplo, este passo de Lucas, não por aquilo que ele parece antecipar dos factos que o quotidiano nos revela através dos media - dos corredores do poder, dos boys and girls-, mas, em particular na disforia destes tempos, naquilo que de relação especular com cada um de nós essas palavras devem manter.
Eis Lucas, então:
Entretanto, a multidão tinha-se reunido; eram milhares, a ponto de se pisarem uns aos outros. Jesus começou a dizer primeiramente aos seus discípulos: «Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se. Porque tudo quanto tiverdes dito nas trevas há-de ouvir-se em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado sobre os terraços. Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. Vou mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, Eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer. Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus. Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais: valeis mais do que muitos pássaros.
[Lucas 12, 1-7]
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A mania pela constante reflexão sobre cada movimento da nossa vontade em busca da resposta que nos salve a alma é algo que do ponto de vista de um latino se torna despropositado. No entanto a fé e a liberdade de escolha reveladora não são assim tão distintas. Relembrando as palavras de G. Deluze " A ética é estarmos a altura do que nos acontece". Será verdadeira fé colocar o boletim do totoloto todas as semanas no quiosque da esquina? Ou será fé para nós latinos também uma acção necessária? Afinal a fé revela-se pelas obras. Existirá assim tanta diferença entre ser pela Reforma ou pela Contra Reforma? Entre colocar reposteiros nas Janelas ou construir Janelas enormes para nada fique escondido? Não será a verdadeira fé apenas um outro nome para o “free will” Americano? Não será o trabalho e a busca constante pela melhoria das condições de vida a verdadeira oração? Seremos assim tão opostos na forma de conceber o mundo?
ResponderEliminarEstar neste blogue pela primeira vez requer
ResponderEliminarmais atenção ao seu conteúdo e tempo.
Voltarei.
Saudações/Irene