segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A propósito da memória em Moby-Dick




As cinco primeiras citações dos Extracts, secção que antecede o primeiro capítulo de Moby-Dick, são respectivamente do Génesis, dos livros de Jó e de Jonas, dos Salmos e de Isaías. Na citação do Génesis, lê-se: “And God created great whales” (78). Nas citações de Jó, dos Salmos e de Isaías encontra-se a referência ao Leviathan ; enquanto que na de Jonas será a um great fish (ou seja, pressupõe o prefaciador, uma baleia). Mais adiante , no capítulo 24 - The Advocate - o narrador voltará a esta questão perguntando enfaticamente: “Who wrote the first account of our Leviathan? Who but mighty Job ! And who composed the first narrative of a whaling-voyage? Who , but no less a prince than Alfred the Great ...” (207)
Afinal, ao surgir na Bíblia, e no Génesis em particular, naquele que não só é o primeiro livro, mas também o livro do princípio, a baleia revela-se aos olhos do leitor como um ser que desde a criação, desde o início dos tempos, percorre a nossa tradição judaico-cristã, percorre a História. A sua história participa da História; a baleia é um mito que participa do mito. Daí que George Steiner tenha escrito: “In Melville's Moby-Dick, ... , the metamorphic energies of the myth-fiction almost appropriate to themselves the authority , the reinsuring centrality of the scriptural -theological source.”

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