sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Natália Correia e os Estados Unidos


Sabia da existência deste livro mas nunca o lera. Seu título é Descobri que era europeia - Impressões duma viagem à América, e foi publicado pela Portugália em 1951; Natália Correia escreveu-o no ano anterior.
Quis o destino que o encontrasse num alfarrabista há uma semana atrás.
É uma narrativa de viagens, escrita, como referi, logo após a II Guerra Mundial, aquando dos primeiros vestígios do macartismo. E, como qualquer narrativa de viagens, revela mais acerca de quem escreve do que dos lugares visitados.

A primeira coisa que, por processos ínvios, me veio à memória, quando comecei a lê-las, foi um outro livro, I like it here, de Kingsley Amis, um romance escrito sensivelmente na mesma altura mas que decorre em Portugal. Curiosamente, "isto aqui" não se refere a Portugal, mas sim à Inglaterra.
Ora, Natália Correia descobre a sua "europeidade" (esta palavra existe?) no Novo Mundo ao aperceber-se das radicais diferenças culturais entre este e o Velho.
Vejam este passo no qual a escritora regista a sua perplexidade:
"Onde é possível encontrar na culta Europa, numa pequena e longínqua cidade sem tradições de cultura, um museu apetrechado das melhores expressões da rate moderna; e crianças interessadas pela pintura?
Este país confunde as pessoas com melhores ou piores intenções a seu respeito. Felizmente não passo de simples espectadora." (p. 111)
Como se vê neste passo, não é apenas uma questão cultural, mas também política que nesse exemplo se exibe. E, no seu centro, persiste uma noção de comunidade. Democrática, claro!
Se encontrarem este livro, agarrem-no, visto tratar-se de um interessante documento de época que exibe a infinita capacidade que o Novo Mundo tem de nos levar a pensar para além dos clichés.
Boas leituras!

Sem comentários:

Enviar um comentário