terça-feira, 7 de outubro de 2014
Shakespeare em Cascais
Entre, como diria o TinTin, "dois queridos e velhos amigos" - Salvato Telles de Menezes e António Feijó; ouvindo um deles - António Feijó; e falando em postura hamletiana
Após estes apontamentos visuais, eis um breve passo da minha intervenção onde analisei as versões do soneto XVIII, feitas por Carlos de Oliveira e por Vasco Graça Moura:
"Basta observarmos o primeiro verso do soneto XVIII - Shall I compare thee to a summer's day? - para detectarmos duas posturas distintas: Carlos de Oliveira tenta responder afirmativamente ao desafio prosódico colocado por Shakespeare, optando por uma fluidez sintáctica idêntica àquele que será uma certa oralidade, embora com algumas elipses. Já Vasco Graça Moura introduz um tom algo cortês que insinua a sua opção estética, isto é, a de recriar Shakespeare através da simulação de uma atmosfera renascentista, que será mais adiante reconhecível em palavras como formosura, tez dourada ou Natura, ou em violentas alterações, rupturas, sintácticas, como no verso “vento agreste botões frágeis fustiga”. Creio, aliás, ser impossível olhar para esta versão do soneto XVIII feita por Vasco Graça Moura, sem ter presente quanto ele, como tradutor, ensaísta e poeta (veja-se a imensa ironia com que ele convoca a poesia de Camões nesse livro singular que é Variações Metálicas, onde os seus versos revisitam as esculturas em ferro de José Aurélio através das fotografias de Ana Gaiaz), quanto ele, dizia, dedicou às estéticas renascentistas."
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