sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Pomar, a propósito do espelho

Após ter visitado a exposição de Pomar, sobre a qual aqui falei, tenho andado a ler A cegueira dos pintores, o seu segundo volume de ensaios. Entre as pérolas que li encontramos, eis algo que colhi numa nota de rodapé (Ah, S. Segismundo
, explicai-me este fascínio por aquilo que é remetido para as margens...) a propósito do espelho: "O único espelho verdadeiro é, para Bachelard, o espelho das águas que Narciso atravessou: e o que o distingue do espelho natural o espelho produzido pela indústria, espécie de concavidade vítrea que mancha as nossas paredes, e aquilo em que assenta o parentesco deste com o quadro, é efectivamente a lesão que produz com a ofensiva presença dos seus limites, com a separação nítida entre o que pertence ao domínio da imagem e o real ambiente. Introduzir numa sala um espelho ou um quadro é praticamente fazer uma colagem em que se matam reciprocamente dois mundos sem escala comum: o meio que nos rodeia e em que nos deslocamos e esta aparência de janela, de buraco ou de poço onde espreitamos surpresas e confirmações e que, se nos atrevemos a tocá-lo, nos remete, despaisados, para uma superfície cega." Bom fim de semana.

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