quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Uma espécie de Monty Python avant la lettre,
é este romance que, algures nos anos oitenta, traduzi para a Moraes. O seu autor é um grego que dá pelo nome de Emmanuel Royidis. Embora eu não tenha traduzido... do grego, claro, mas sim a partir da versão inglesa, da autoria de Lawrence Durrell, que também assina o prefácio.
O romance é absolutamente louco e, pelo menos para mim, muito divertido.
Há uns tempos revi profundamente a tradução para esta reedição pela Guerra e Paz.
Deixo-vos o princípio.
Se gostarem, comprem (não recebo mais por isso) e leiam o resto:
"O poeta épico começa habitualmente a sua narrativa pelo meio. Os romancistas estão também aptos a fazê-lo, podendo classificar-se um décimo do seu trabalho como prosa poética. Deste modo, o herói, surja ele deitado numa cave ou num palácio, num divã ou numa chaise longue, confronta-se com a inevitabilidade de recordar tudo o que passou em benefício da sua amada. “Tendo provocado o amor grandes sacrifícios...” etc. Enfim, já conhecem esta história.
Tal é o método habitual, tão elogiado pelos críticos. Mas apesar de eu próprio ser um partidário das regras, prefiro o método do escritor de sagas ou do procurador que, quando chegam à altura de descreverem um herói ou um tratante, agarram-no no berço, se assim se pode dizer, e acompanham-no cronologicamente até à imortalidade ou até à forca. A minha narrativa vê-se assim obrigada a começar pelo princípio, e quem preferir uma desordem clássica pode começar por ler as últimas páginas, e deixar as primeiras para o fim; transformará assim um história simples e linear num texto épico.
O próprio grande Byron foi paciente ao ponto de ouvir o palrar das velhas em Sevilha, para desse modo descobrir se a mãe do seu herói dizia o Pai Nosso em latim, se sabia hebreu, ou se vestia ou não uma saia de linho ou se usava meias. Também eu desejaria informar o meu leitor, senão de todos estes detalhes, pelo menos do nome dos antepassados da minha heroína; mas, apesar das minhas pesquisas nas Histórias de todos os Heródotos medievais, apenas fui capaz de descobrir que o seu pai tinha tantos e tão variados nomes quantos os poetas concederam a Zeus, e os hindus ao Diabo.
Após ter passado vários anos de estudo nos meus manuscritos com a esperança de descobrir se a linha genealógica de Joana descendia dos Willibalds ou dos Willifrids, foi com relutância que me vi forçado a duvidar do reconhecimento público por tal empresa. Assim, de acordo com os sábios em voga, que parecem recear perder tempo na leitura, visto ela os impedir de escrever e deste modo recusar algo de valioso à posteridade, retomo o fio condutor da minha narrativa – por outras palavras, começo-a.
O desconhecido pai da nossa heroína era este um monge inglês, embora não tenha conseguido saber qual o condado de que era originário, já que naqueles tempos a Bretanha ainda não havia sido dividida em condados por conveniência dos colectores dos impostos. Os seus antepassados foram aqueles apóstolos gregos que se encontravam entre os primeiros a fixar a Cruz nos verdes campos da Irlanda."
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Aguçaste-me a curiosidade pelo livro, Mário. Anda lá por casa um outro, sobre a mesma personagem, que não me interessou. Mas este, a começar assim, promete.
ResponderEliminarObg