quinta-feira, 31 de março de 2011
Estrangeiros somos
Uma meditação de Alfredo Teixeira:
'Vivemos o tempo do «estrangeiro». Não me refiro apenas à mobilidade que se descreve na geografia humana. Refiro-me àquela que se declina nos itinerários de recomposição do vínculo social. Essa recomposição exibe os riscos do desenraizamento próprio destas sociedades destradicionalizadas. Num tempo em que os indivíduos se descobrem tantas vezes «doentes de si próprios», porque enredados nos seus labirintos, sem substitutos para as antigas instâncias comunitárias facilitadoras da integração, os nossos contemporâneos praticam permanentemente a fronteira. Não reconhecendo uma terra como sua, cada indivíduo torna-se o lugar de cruzamento de mundos múltiplos que excitam as competências comunicativas, densificam as transações sociais e multiplicam as pertenças.
As mais recentes possibilidades abertas pelas tecnologias da informação e da comunicação são o exemplo mais acabado desta explosão comunicativa e da emergência de sociabilidades em rede que ultrapassam os constrangimentos das relações baseadas no território. Estas plataformas permitem formas inéditas de comunicação e novas lógicas comunicativas. Mas, para além disso, favorecem a emergência de outras formas de construir os laços sociais. Globalmente, são «vias» de comunicação de caráter acentrado – não há para ninguém lugar prévio de autoridade (mesmo que seja a autoridade de uma tradição), ninguém tem condições para se pronunciar «ex cathedra».'
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