terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Li, há dias, "Prolongamento", de Michael Paul Gallagher s.j.

um livro que mexe bem com o que de mais fundo existe em nós: saber como nos confrontaremos nós com a inevitabilidade da morte? Escrito nos meses que se seguiram à descoberta de que, pela terceira vez, o cancro lhe tomou o corpo, e que o fim se aproxima, "Prolongamento" é, para todos aqueles entre nós que não sabem quando se dará o encontro em Sarmacanda, um alerta para estarmos atentos ao que de belo nos espreita no dia-a-dia. Eis um passo escrito a 5 de Outubro de 2015, alguns dias antes da sua partida: Comecei a quimioterapia em regime de ambulatório. Vai ser um dia por semana e depois uma semana livre. Achei muito diferente do internamento hospitalar: numa sala grande com cerca de trinta doentes, maioritariamente mulheres. Muitos deles tinham acompanhantes. Eu estava sozinho. Em vez de me pedirem a lista de sintomas, disseram-me que a quimioterapia podia avançar. Começou com os protectores. Para mim foi um dia difícil - solidão, cansaço - mas ainda assim fui capaz de encontrar uma âncora importante para a oração. Toda a minha vida procurei ser um companheiro de Jesus. Agora ofereço a minha lenta viagem de desapego, pedindo que os meus fragmentos de escuridão se unam à agonia de Cristo. Posso apenas oferecer o meu percurso entorpecido até à sua cruz, onde a dor é inimaginável. De Cristo aprendo como enfrentar este capítulo, o qual estou convencido que está em declínio. Estou deprimido? Possivelmente. O amor por detrás de Jesus na Cruz não estava cheio de alegria ou de luz. Era keinosis ou deslocamento, um esvaziamento do eu. Boas leituras!

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