quinta-feira, 5 de setembro de 2013
"Definir o tempo pela sua qualidade"
No termo das férias importa reflectir sobre a noção de tempo. A propósito, transcrevo o excerto do texto que li no site da Pastoral da Cultura.
"«O tempo alcançou plenitude» (peplerotai o kairòs) - lê-se na proclamação inaugural de Jesus, segundo o relato de São Marcos (Mc 1,15). Olhando para a forma verbal empregue (a forma do perfeito, peplerôtai - alcançou plenitude, completou-se), vemos um tempo onde o cumprimento começou, mas que prossegue em efeitos que o presente e o futuro prolongam. Não se trata, portanto, de um tempo meramente pontual, para ser deglutido na vertigem do que passa. Nem é, de modo algum, um mero passar. A utilização que se faz aqui do lexema kairòs revela-se iluminante. Porque se usa, para designar este tempo aberto por Jesus, o substantivo kairòs em vez de chrónos? Há uma diferença entre ambos: o kairòs exprime uma qualidade do tempo; enquanto que chrónos designa a quantidade. O significado fundamental de kairòs é o de uma expressão decisiva do tempo, o seu ponto essencial, fugindo a um entendimento estritamente cronológico. Em autores antigos tão diversos como Sófocles ou Aristóteles, ou já na tradução grega da Bíblia hebraica, kairòs ganha, não raro, um sentido religioso, a ponto de coincidir com a revelação do próprio Deus. Essa é a perspetiva do Novo Testamento, que interpreta o tempo como lugar do irromper de Deus, propício e determinante. De facto, não é o tempo quantificado que dará alma ao mundo, mas o tempo qualificado pela decisão e pela experiência da graça e do dom."
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