sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Eleições americanas e o futuro
Aqui fica a versão não editada (um pouco mais longa, portanto) do meu texto que saiu ontem no Diário de Notícias:
"Estas eleições presidenciais podem ser consideradas um ponto de viragem a dois níveis: do discurso político conservador e da emergência de um novo mapa sociológico.
O discurso político conservador foi sempre condicionado pelas raízes ideológicas americanas, as quais assentam nos princípios liberais setecentistas. Daí que seja, frequentemente, noutros espaços, como o da ética religiosa, próxima de um fundamentalismo cristão e das suas agendas ideológicas, que esse discurso se tem sedimentado. Outro dos traços constantes do conservadorismo americano é o da desconfiança face ao poder central (aspecto curioso, tendo em conta que essa grande figura que é, afinal, um antecedente histórico da esquerda americana, Thomas Jefferson, opunha-se radicalmente ao poder central, o que o distinguia, então, entre outras coisas de John Adams), contra o qual o radicalismo populista do Tea Party se tem erguido. As opções do Presidente Obama no plano da política económica, de saúde ou da educação são, assim, por eles basicamente entendidas como interferências do poder central na liberdade de escolha de cada comunidade (ou Estado).
Moderados como Romney e McCain foram profundamente condicionados por essas agendas. Será, por isso, interessante observar a forma como a nova geração conservadora – a dos políticos que estão na casa dos quarenta anos – irá lidar com elas de modo a afirmar um discurso para o século XXI.
No plano do mapa sociológico emergente constata-se que as tradicionais divisões por zonas geográficas foi, de alguma forma, perturbada. Entre outros factores a reter neste âmbito importa assinalar o peso crescente da minoria hispânica que, em meados deste século, poderá significar 30% do eleitorado. Com efeito, é nesta cada vez mais relevante minoria que o Presidente Obama encontra uma parte significativa do seu eleitorado. A ela, assim como às minorias negras e asiáticas deve, aliás, a vitória nesse Estado tradicionalmente liberal que é a Califórnia. Se pensarmos que 95% dos negros votaram no Presidente, que os jovens também o escolheram preferencialmente, e que as mulheres se dividiram pelas duas candidaturas (as casadas tendencialmente preferindo Romney e as solteiras/divorciadas, Obama), deduzimos que algo está a mudar na sociedade americana e que as clivagens podem passar agora por tópicos envolvendo, por exemplo, a raça ou o género.
Como irá lidar com esta nova realidade a velha América, branca, anglo-saxónica e protestante, e de que forma as minorias podem participar de uma reconfiguração do mito americano, eis duas dimensões a observar com atenção nos próximos tempos. Será por aí que o futuro da jovem nação irá passar.
"
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