sexta-feira, 15 de abril de 2011

Deixo-vos um poema


inédito, lido ontem à tarde na mesa-redonda.
Já agora, os versos em italiano são do Eugenio Montale.
Bom fim de semana!

Algures no silêncio, uma
palavra secreta me foi confiada.

O lugar parecia deserto, a hora adiantada,
a noite avançada. O dia aproximava-se,
e o teu sono era sinal de um mistério…

Forse non ho altra prova che Dio mi vede e che
le tue pupille d’acquamarina parlano per lui.

Em teu rosto, a variedade e a suavidade da luz
e de todas as cores.
Nele, o amplexo sem fim excedendo
teus braços,
todos os teus beijos.
O amplexo
desvendado por uma
luz mais suave que a do sol e
a das estrelas,
na língua que os anjos e as almas
falam entre si.

De novo a sombra se estendeu sobre ti.
Entrou no quarto mais secreto
por um caminho, por certo, estreito, mas real, seguro.

Não era a carne nem o sangue que te revelava
mas sim a sombra
iluminando as tuas pálpebras,
o teu rosto.

Fazia-me ver a fraqueza do meu olhar,
suavizava para os meus olhos doentes
o brilho da sua luz,
a luz que nasce da luz.

Nele procurei o silêncio e o retiro,
para sempre lugar
do meu repouso.

É ele que te planta no mar.


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