segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Porque Hugo Williams é um dos poetas

aos quais regresso amiúde, partilho convosco a intensidade dos sentidos e da memória de "Siren Song": "I phone from time to time, to see if she’s/ Changed the music on her answerphone./ 'Tell me in two words,' goes the recording,/ 'what you were going to tell in a thousand.'// I peer into that thought, like peering out/ To sea at night, hearing the sound of waves/ Breaking on rocks, knowing she is there,/ Listening, waiting for me to speak.// Once in a while she’ll pick up the phone/ And her voice sings to me out of the past./ The hair on the back of my neck stands up/ As I catch her smell for a second."

Felicidade e procura, segundo Santo Agostinho:

Todos os homens querem ser felizes; não há ninguém que não o queira, e com tanta intensidade que o deseja acima de tudo. Melhor ainda: tudo o que querem para além disso querem-no para isso. Os homens perseguem paixões diferentes, um esta, outro aquela; também existem muitas maneiras de ganhar a vida neste mundo: cada um escolhe a sua profissão e exerce-a. Mas quer adotem este ou aquele género de vida, todos os homens agem para serem felizes. [...] O que há então nesta vida capaz de nos fazer felizes, que todos desejam mas que nem todos alcançam? Procuremo-lo. [...]

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Mais um lugar imaginário

Torre da Barbela – Dir-se-á que o lugar efectivamente existe. Comprová-lo-ão as peregrinações dos amigos de Ruben, às quais não terão faltado as devidas e peculiares assombrações, como um dia relatou Guilherme d’Oliveira Martins. Mas nem elas puderam testemunhar os encontros que, ao cair da noite, animam o outrora próspero condado da Barbela; recorde-se que [n]a embaixada que D. Manuel mandou ao papa Leão X ia a carroça típica, carregada das especialidades do condado da Barbela… Quando emergem as personagens que, ao longo dos séculos testemunharam a nossa História, de imediato reconhecemos a nossa identidade: a nostalgia que irremediavelmente nos prende a um passado perdido e que faz com que … as pessoas fal[e]m todas da véspera…; o nosso reconhecido impulso para o improviso (Nós improvisamos e aí é que somos geniais.); a reiterada incapacidade de reconhecer a nossa verdadeira dimensão (… Notre-Dâme, um pouco maior que a da Moutosa onde havia sermões de sete horas sem interrupção.); uma sensibilidade que nos torna, reconheça-se, fascinantes e que se projecta nesses … versos simples que atravessam a história cantando um lirismo tranquilo e saudoso. Tudo isso Ruben A. viu e descreveu com superior sentido de humor nesta obra que continua a ser um dos mais belos auto-retratos deste lugar em que vivemos e daquilo que somos. (Ruben A. A Torre da Barbela, 1964)

Dicionário de Lugares Imaginários

Eis um dos lugares imaginários que referi quando, há uns anos, o Jornal de Letras me pediu uma contribuição sobre este tópico:Ecotopia – Em 1981, uma guerra de secessão leva à separação da Califórnia, de Washington e do Oregon dos Estados Unidos da América. No novo país que dá pelo nome de Ecotopia , e que, segundo Joel Barlow, faz fronteira com os loci culturais Mexamerica e Empty Quarter (por nós conhecido por Midwest), predomina uma sociedade onde ecologia, socialismo (devedor da Revolução Cultural Chinesa) e feminismo convergem para dar corpo à desejada utopia. Ernest Callenbach descreve da seguinte forma os seus habitantes: … muitos ecotopianos assemelhavam-se aos antigos habitantes do Oeste … como se fossem personagens da Corrida ao Ouro renascidas … frequentemente estranhas, mas não com um ar louco ou sórdido como o dos hippies dos anos sessenta. Por seu turno, a concepção do espaço urbano evoca alguns dos momentos mais visionários de Hundertwasser; veja-se Market Street em S. Francisco: Nesta avenida principal podem-se ver séries de pequenas e encantadoras cascatas, com água caindo, e canais com pedras, árvores bambus, sebes. Afinal, onde se poderia pensar a utopia na América, senão sempre mais a Oeste? (Ernest Callenbach, Ecotopia, 1975; Joel Barlow, The Nine Nations of North America, 1981)

Uma sugestão

Foi inaugurada há dias, na Fundação D. Luís, uma exposição que recomendo. Tem como mote "Roque Gameiro, uma família de artistas", abarca diferentes gerações e estende-se por vários andares do edifício do Centro Cultural de Cascais. Para além das nem sempre claras interacções familiares, admiro, em particular, as aguarelas do Mestre, os detalhes na representação do espaço.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Problemas do realismo

Serge Daney, arguto como sempre,desvendando o subtexto político de Stalker: And what of these prematurely aged faces, these mini-Zones where grimaces have become wrinkles? And the self-effacing violence of those who wait to receive a beating (or maybe to give a beating if they haven't forgotten how?) And what of the false calm of the dangerous monomaniac and the empty reasonings of a man who is too solitary? These do not come only from Tarkovsky's imagination. They cannot be invented, they come from elsewhere. But from where? STALKER is a metaphysical fable, a course in courage, a lesson in faith, a reflexion on the end of time, a quest, whatever one wants. STALKER is also the film in which we come across, for the first time, bodies and faces which come from a place we know about only through hear-say. A place whose traces we thought the Soviet cinema had lost completely. This place is the Gulag. The Zone is also an archipelago. STALKER is also a realist film.

The hireling shepherd

Neste quadro do pré-rafaelita William Holman Hunt persiste um subtexto,Evangelho de Mateus 18,12-14: "Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as noventa e nove nos montes para ir procurar a que anda tresmalhada? E se chegar a encontrá-la, em verdade vos digo que se alegra mais por causa dela do que pelas noventa e nove que não se tresmalharam." E, na denegação do que aqui se recomenda, é uma moral vitoriana que se insinua.Caroline Healey [English/History of Art 151, Pre-Raphaelites, Aesthetes, and Decadents, Brown University, 2004], desenvolve esta última dimensão, ligando-a a uma tradição pictórica: William Holman Hunt's The Hireling Shepherd epitomizes the painter's emulation of Hogarthian techniques and his quest for typological symbolism. The painting centers on a realistically rendered shepherd and shepherdess, reclining in a field beside a row of trees. Dressed in a typical field worker's attire, the shepherd leans seductively toward the young woman, his head practically resting on her shoulder. In her loose-fitting casual dress, the shepherdess reciprocates his feelings through her suggestive body language. She leans back toward him and reaches her right arm back to seemingly grasp his; however, her facial expression is less inviting, bearing a hint of excessive pride. To the right of the couple, a lamb sits, eating apples. More apples, flowers, and grass dominate the foreground of the image, while sheep graze in a shady area to the shepherd's left. although at first glance, The Hireling Shepherd appears to be a straightforward country scene, it is full of symbolic meaning. Hunt believed that to have any sort of value or vitality, art needed to possess religious significance and emotional resonance with the viewer. He rendered the The Hireling Shepherd in a highly realistic manner, however, Hunt often stressed that realism was not his primary goal in painting. Similar to Hogarth's work, Industry and Idleness, Hunt used The Hireling Shepherd to emphasize the importance of a good work ethic for all citizens and to show the potentially harmful effects of idleness. As a result of the shepherd's neglect, the land has turned marshy and the sheep are in poor health.