segunda-feira, 18 de junho de 2012
Descobertas, segundo São Justino (c- 100-160)
A minha alma estava impaciente por aprender aquilo que é o princípio e a essência da filosofia. [...] A inteligência das coisas incorpóreas cativava-me inteiramente; a contemplação das ideias dava asas ao meu pensamento. Imaginei-me sábio em pouco tempo e até fui suficientemente tolo para esperar ver a Deus de imediato, pois tal é o objectivo da filosofia de Platão. Nesse estado de espírito, [...] dirigi-me a um sítio isolado junto ao mar, onde esperava ficar só, quando um velhinho começou a seguir-me. [...]
─ O que te trouxe aqui? ─ perguntou-me.
─ Gosto deste género de caminhadas [...], são muito favoráveis à meditação filosófica. [...]
─ A filosofia traz, portanto, a felicidade? ─ quis ele saber.
─ Certamente ─ respondi ─, e apenas ela. [...]
─ Então a que é que tu chamas Deus?
─ Deus é Aquele que é sempre idêntico a Si próprio e dá o ser a tudo o resto.
─ E como é que os filósofos podem ter uma ideia concreta de Deus, se não O conhecem, visto que nunca O viram, nem escutaram?
─ Mas ─ respondi ─, a divindade não é visível aos nossos olhos como o são os outros seres; não é acessível senão à inteligência, como diz Platão; e eu concordo com ele. [...]
─ Houve, já há muito tempo ─ disse o velho ─, homens anteriores a todos esses pretensos filósofos, homens felizes, justos e amigos de Deus. Falavam inspirados pelo Espírito de Deus e prediziam um futuro agora realizado: chamamos-lhes profetas. Só eles viram a verdade e a anunciaram aos homens. [...] Os que os lêem podem, se tiverem fé neles, tirar grande proveito dessa leitura. [...] Eles eram testemunhas fiéis da verdade. [...] Glorificaram o criador do universo, Deus e Pai, e anunciaram Aquele que Ele enviou, Cristo, Seu Filho. [...] E tu, antes de mais, reza para que as portas da luz te sejam abertas, pois ninguém pode ver nem entender, se Deus ou o Seu Cristo não lhe derem o dom de compreender. [...]
Nunca mais o vi mas, subitamente, acendeu-se um fogo na minha alma; fiquei cheio de amor pelos profetas, por esses homens que são amigos de Cristo. Reflectindo nas palavras do ancião, reconheci que essa era a única filosofia segura e proveitosa.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Escravatura e autobiografia
Hoje, às 17.30h, na Sociedade de Geografia de Lisboa, uma palestra minha sobre a autobiografia de Gustavus Vassa.
Gustavus Vassa é o primeiro cidadão americano que, outrora escravo, escreveu a sua autobiografia; um texto que iria marcar profundamente narrativas afins ulteriores.
A iniciativa é da secção de Antropologia e destina-se a evocar o fim da escravatura. Outras palestras se seguirão. Quem quiser e puder, apareça.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Se Mateus fosse oriundo deste país de doutores
por certo teria opinado de forma diferente neste passo do Evangelho:
Quanto a vós, não vos deixeis tratar por 'mestres’, pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos.
E, na terra, a ninguém chameis 'Pai’, porque um só é o vosso 'Pai’: aquele que está no Céu.
Nem permitais que vos tratem por 'doutores’, porque um só é o vosso 'Doutor’: Cristo.
De igual modo, também não seria a pensar nas máquinas dos nossos heróis do presente (vulgo selecção nacional de futebol) que o capuchinho, Santo Pio de Pietrelcina (1887-1968), comentou ainda tendo aquele passo em mente:
Não pares de realizar actos de humildade e de amor a Deus e aos homens; porque Deus fala àquele que tem o coração humilde perante Ele e enriquece-o com os Seus dons.
Se Deus te reservar os sofrimentos do Seu Filho e quiser que conheças a tua própria fraqueza, é preferível seres humilde do que perderes a coragem. Faz subir até Deus uma oração de abandono e de esperança quando a tua fragilidade te fizer cair, e agradece ao Senhor todas as graças com que ele te enriquece.
sábado, 2 de junho de 2012
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades?
Palavras de São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 167; CCL 248, 1025; PL 52, 636:
«João Baptista proclamava: 'Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus'» (Mt 3,1). [...] Bem-aventurado João, que quis que a conversão precedesse o julgamento, que os pecadores não fossem julgados mas recompensados, que os ímpios entrassem no Reino e não na punição. [...] Quando proclamou João esta iminência do reino dos Céus ? O mundo estava ainda na sua infância [...]; mas para nós, que hoje proclamamos essa iminência, o mundo está extremamente velho e cansado. Perdeu as forças, perde as faculdades; os sofrimentos acabrunham-no [...]; clama o seu enfraquecimento, ostenta todos os sintomas do fim. [...]
Estamos a ir a reboque de um mundo que se evade; esquecemos os tempos que aí vêm. Estamos ávidos de actualidade, mas não temos em consideração o julgamento que se aproxima. [...]
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