segunda-feira, 24 de junho de 2013

"Without looking out of my window

I can see all the things of heaven," cantou George Harrison. Eis uma meditação que com aquela se cruza. Pertence a São Rafael Arnaiz Baron (1911-1938), monge trapista espanhol:
"Também eu, quando estava no mundo, corria muitas vezes pelas estradas de Espanha, encantado por ver o velocímetro do meu carro marcar 90 Km à hora! Que disparate! Quando me apercebi de que não tinha mais horizontes, sofri a decepção típica daquele que tem a liberdade deste mundo, pois a terra é pequena e depressa lhe damos a volta. O homem está rodeado de horizontes pequenos e limitados. Para quem tem a alma sedenta de horizontes infinitos, os da terra não bastam: abafam-no, não há mundo que lhe chegue e só encontra o que procura na grandeza e imensidão de Deus."

A propósito do problemático tópico do perdão

aqui fica a reflexão de Santo Isaac, o Sírio (século VII), monge em Nínive, perto de Mossul. Os excertos da sua reflexão são retirados de Discurso ascético, 1 ª Série, n º 60:
"Não desprezes o pecador, porque todos nós somos culpados. Se por amor a Deus te insurges com ele, em vez disso chora por ele. Por que o desprezas? Despreza os seus pecados, e reza por ele, para fazeres como Cristo, que não Se irritou contra os pecadores, mas rezou por eles (cf. Lc 23,34). Não viste como Ele chorou sobre Jerusalém? Porque também nós, mais do que uma vez, fomos joguetes do demónio. Por quê desprezar alguém que foi, como nós, joguete do diabo que troça de todos nós? Porque desprezas o pecador, tu, que não passas de um homem? Será porque ele não é justo como tu? Mas onde está a tua justiça, uma vez que não tens amor? Por que não choraste por ele? Em vez disso, persegue-lo. É por ignorância que alguns se irritam contra os outros, eles que acreditam ter o discernimento das obras dos pecadores."

sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Do mito à criação"

é o título da exposição de Mário Rita inaugurada há dois dias no Museu da Ciência, na Rua da escola Politécnica. Um conjunto de desenhos feitos há cerca de vinte anos. Um traço vigoroso e firme. Uma representação minimalista que, todavia, não é indissociável do volume (tri-dimensionalidade?). Uma brilhante relação com o espaço agreste da Sala do Veado. No convite surgem estas palavras de Fernando Martin Galán: "Rita tem uma característica muito peculiar que é combinar o exagero com a moderação, o dramatismo com a tranquilidade, o movimento com a inércia, a extroversão com a introversão, a sociedade com a solidão (...) Em relação ao corpóreo e material - a técnica - trata-se de uma mistura magistral de desenho e cor, massa e forma, preenchimento de espaço e vácuo, gesto e não gesto, unidade e pluralidade de composição (...)" Uma breve nota pessoal: a Mário Rita devo a capa do meu romance Inveja - uma novela académica. Bom fim de semana!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Alguns comentários a propósito da velhice (chamemos "a coisa" pelo seu nome)

feitos pelo poeta americano Charles Simic. Podem ler o texto na íntegra no site do New York Review of Books. Ei-los... e boa disposição: "On certain days I feel like a car with too many miles on its speedometer. There’s a knock in the engine, the radiator overheats, the oil leaks, the body is rusty, the upholstery is ripped and stained, one windshield wiper doesn’t work, and the muffler is full of holes. “Don’t worry about it,” my Doc says. He insists that I’m in terrific shape despite high blood pressure, old-age diabetes, and growing deafness in both ears. He sounds like a used car salesman to me, trying to get rid of a car that’s ready for the junk yard, but I lap up his words all the same, and speed away after the checkup singing at the top of my voice and trailing a cloud of black smoke from the exhaust. At four o’clock in the morning, after a night of tossing and turning, I’m not so cocky. I go and squint at my face in the bathroom mirror and don’t like what I see. Even Peter Lorre playing a child murderer in that 1931 German movie was more wholesome to behold. Recently a reviewer complained that my new book of poems is much too preoccupied with death. He appeared to suggest that I ought to be more upbeat, dispensing serene wisdom in the autumn of my life, instead of reminding readers every chance I get of their mortality. Just you wait, I said to myself, till you reach my age and start going to funerals of your friends. Nobody warns us about that when we are young, and even if they ever did, it goes in one ear and out the other. "