segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Only an expert can deal with the problem



Há uns anitos, algures em finais dos 80s, começou a emergir na tv o hábito de introduzir especialistas nos debates.
Explico-me melhor: se havia um debate sofre conflitos na escola, era necessário um psicólogo, um sociólogo, um educador, um encarregado de educação... e assim se cobria o espectro prismático de abordagem do... problema.
Mas, se o debate fosse... sobre a sociedade de consumo? Então era necessário um psicólogo, um sociólogo, um representante do.. consumo e... um consumidor que podia muito bem ser... um educador, ou... um encarregado de educação...
E se o debate fosse... Não importa prosseguir.
Gradualmente, a ideia que cada um de nós pode ter reflectir sobre algo foi elidida, já que fomos substituídos por... especialistas, gente iluminada, claro!
Mais recentemente emergiu uma nova espécie de... especialistas. São eles os... politólogos, isto é, gente que reproduz banalidades sobre política doméstica e sobre a outra... gente legitimada por uma qualquer instituição universitária. São eles os especialistas da política.
Com este tsunami iluminado dos especialistas, nós, os que não somos especialistas, ou seja, quase todos nós, só podemos ter opinião após sermos... iluminados pelos especialistas.
Chama-se a isto (entre outras coisas) o estilhaçar do saber.
Na sequência desse estilhaçar, há quem pense que os meninos deviam ter disciplinas (unidades curriculares, melhor seria dizer) sobre... condução... civismo... e etc.
Perdeu-se a noção de educação como formação.
Prevalece hoje o discurso espartilhado, técnico... o dos especialistas.
Foi por tudo isto que me regozijei por ter encontrado este lúcido texto de Laurie Anderson no seu mais recente trabalho, Homeland.
O título deste texto é... Only and expert, claro!
Felizes somos por termos ainda vozes como a de Laurie Anderson.
Deixo-vos o texto, a par da capa do cd e de uma imagem de um... espectro, perdão, de um especialista!
"Now only an expert can deal with the problem
Because half the problem is seeing the problem
And only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem

So if there’s no expert dealing with the problem
It’s really actually twice the problem
Cause only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem

Now in America we like solutions
We like solutions to problems
And there’s so many companies that offer solutions
Companies with names like Pet Solution
The Hair Solution. The Debt Solution. The World Solution. The Sushi Solution.
Companies with experts ready to solve the problems.
Cause only an expert can see there’s a problem
And only an expert can deal with the problem
Only and expert can deal with the problem

Now let’s say you’re invited to be on Oprah
And you don’t have a problem
But you want to go on the show, so you need a problem
So you invent a problem
But if you’re not an expert in problems
You’re probably not going to invent a very plausible problem
And so you’re probably going to get nailed
You’re going to get exposed
You’re going to have to bow down and apologize
And beg for the public’s forgiveness.
Cause only an expert can see there’s a problem
And only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem

Now on these shows, the shows that try to solve your problems
The big question is always “How can I get control?
How can I take control?”
But don’t forget this is a question for the regular viewer
The person who’s barely getting by.
The person who’s watching shows about people with problems
The person who’s part of the 60% of the U.S. population
1.3 weeks away, 1.3 pay checks away from homelessness.
In other words, a person with problems.
So when experts say, “Let’s get to the root of the problem
Let’s take control of the problem
So if you take control of the problem you can solve the problem.”
Now often this doesn’t work at all because the situation is completely out of control.
Cause only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem

So who are these experts?
Experts are usually self-appointed people or elected officials
Or people skilled in sales techniques, trained or self-taught
To focus on things that might be identified as problems.
Now sometimes these things are not actually problems.
But the expert is someone who studies the problem
And tries to solve the problem.
The expert is someone who carries malpractice insurance.
Because often the solution becomes the problem.
Cause only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem

Now sometimes experts look for weapons.
And sometimes they look everywhere for weapons.
And sometimes when they don’t find any weapons
Sometimes other experts say, “If you haven’t found any weapons
It doesn’t mean there are no weapons.”
And other experts looking for weapons find things like cleaning fluids.
And refrigerator rods. And small magnets. And they say,
“These things may look like common objects to you
But in our opinion, they could be weapons.
Or they could be used to make weapons.
Or they could be used to ship weapons.
Or to store weapons.”
Cause only an expert can see they might be weapons
And only an expert can see they might be problems.
Cause only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem

And sometimes, if it’s really really really hot.
And it’s July in January.
And there’s no more snow and huge waves are wiping out cities.
And hurricanes are everywhere.
And everyone knows it’s a problem.
But if some of the experts say it’s no problem
And other experts claim it’s no problem
Or explain why it’s no problem
Then it’s simply not a problem.
But when an expert says it’s a problem
And makes a movie and wins an Oscar about the problem
Then all the other experts have to agree that it is most likely a problem.
Cause only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem

And even though a county can invade another country.
And flatten it. And ruin it. And create havoc and civil war in that other country
If the experts say that it’s not a problem
And everyone agrees that they’re experts good at seeing problems
Then invading that country is simply not a problem.
And if a country tortures people
And holds citizens without cause or trial and sets up military tribunals
This is also not a problem.
Unless there’s an expert who says it’s the beginning of a problem.
Cause only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem

Only an expert can see there’s a problem
And see the problem is half the problem
And only an expert can deal with the problem
Only an expert can deal with the problem"

sábado, 25 de dezembro de 2010

Partilho convosco


a mensagem de um amigo.
Ei-la:
'Dizia Simone Weil que ,«a beleza é quando Deus vem procurar o homem». Sintamo-nos buscados.'
Um final de noite feliz para quem por aqui passe!

Neste dia, um desenho de Rui Aleixo


do Prólogo do Evangelho segundo São João, e algumas palavras do discurso de Bento XVI ao mundo da cultura, pronunciado a 12 de Maio de 2010, no CCB:
«Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza».
[fonte, site da Pastoral da Cultura]

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ouvir contar estes factos como se fosse a primeira vez...



Do Antigo Testamento
Livro de Malaquias 3,1-4.23-24.

«Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais, e o mensageiro da aliança, que vós desejais. Ei-lo que chega! –, diz o Senhor do universo. Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará, como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o Senhor os que apresentam a oferta legítima. Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor como nos dias antigos, como nos anos de outrora. Eis que vou enviar-vos o profeta Elias, antes que chegue o Dia do Senhor, dia grande e terrível. Ele fará com que o coração dos pais se aproxime dos filhos, e o coração dos filhos se aproxime dos seus pais, para que Eu não tenha de vir castigar a terra com o anátema.»

Ao Novo Testamento

Evangelho segundo S. Lucas 1,57-66.

Entretanto, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar se João.» Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele.

A mesma Presença

Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Liturgia bizantina
Lucernário das Grandes Vésperas da festa da Natividade de João Baptista
(a partir da trad. Chevetogne)

«Começou a falar, bendizendo a Deus.


Pelo seu nascimento, São João
pôs fim ao silêncio de Zacarias:
a partir desse momento, não pôde mais calar-se
aquele que gerou a voz que brada no deserto (Mt 3, 3),
anunciando a vinda de Cristo.
Mas, como a incredulidade
começara por prender a língua do pai,
a manifestação devolveu-lhe a liberdade;
e foi assim anunciada, e depois trazida à luz
a voz do Verbo, o Precursor da Claridade,
que intercede pelas nossas almas.


Neste dia, a Voz do Verbo liberta
a voz paternal, prisioneira da sua falta de fé;
da Igreja manifesta a fecundidade,
fazendo cessar a maternal esterilidade.
À frente da luz avança o candelabro
do Sol da Justiça recebe o reflexo (Mal 3, 20)
o raio que anuncia a Sua vinda
para a restauração universal
e a salvação das nossas almas.


Eis que avança, vindo de um seio estéril,
o mensageiro do Verbo Divino,
que haveria de nascer de um seio virginal
o maior de todos os filhos dos homens (Mt 11, 11),
o profeta que não tem igual;
porque as coisas divinas precisam de um começo maravilhoso,
seja a fecundidade numa idade avançada (Lc 1, 7),
ou a concepção operada sem semente.
Glória a Ti, ó Deus, que fazes maravilhas pela nossa salvação. [...]


Apóstolo universal,
objecto do anúncio de Gabriel (Lc 1, 36),
ramo nascido da estéril e mais bela flor do deserto,
amigo íntimo do Esposo (Jo 3, 29),
profeta digno de aclamação,
pede a Cristo que tenha piedade das nossas almas.»

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A quem por aqui passa,


com o sublime El Greco,
e as lúcidas palavras de José Tolentino Mendonça,
votos de um feliz Natal.


“O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro da alegria e da nudez do tempo
Dentro do calor da casa e do relento imprevisto
Dentro do declive e da planura
Dentro da lâmpada e do grito
Dentro da sede e da fonte
Dentro do agora e dentro do eterno”

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Descobri, através de uma amiga,


que a Lisa Simpson também lia The Bell Jar. Afinal, era inevitável.
Com a devida vénia à Lisa, aqui vos deixo as linhas iniciais do romance, onde Plath estabelece uma analogia intensa entre a tensão psicológica e a cena histórica - o macartismo e a execução dos Rosenberg.
Estranhos estes anos 50!
Prometo voltar antes do Natal com algo de eufórico.
Para já, aqui fica Plath no seu melhor:
It was a queer, sultry summer, the summer they executed the Rosenbergs, and I didn't know what I was doing in New York. I'm stupid about executions. The idea of being electrocuted makes me sick, and that's all there was to read about in the papers -- goggle-eyed headlines staring up at me at every street corner and at the fusty, peanut-smelling mouth of every subway. It had nothing to do with me, but I couldn't help wondering what it would be like, being burned alive all along your nerves.

I thought it must be the worst thing in the world.

New York was bad enough. By nine in the morning the fake, country-wet freshness that somehow seeped in overnight evaporated like the tail end of a sweet dream. Mirage-gray at the bottom of their granite canyons, the hot streets wavered in the sun, the car tops sizzled and glittered, and the dry, cindery dust blew into my eyes and down my throat.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Francisco Ferreira criou as Imagens


Herberto Helder concebeu as palavras:
"... que
o mundo é um caos sumptuoso - este
é o segredo:
música, e eu estou bêbado, e é tão amargo o tempo,
tão irrevocável,
quero eu dizer: doce é ouvir o que se ouve muito junto ao ouvido,
enquanto se responde ao movimento dos dedos..."

in Lapinha do Deserto

Um bom fim de semana!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

To whom it may concern


ou dizendo melhor: a quem possa interessar, aqui fica a informação, no Jornal de Letras saiu hoje uma entrevista com yours truly a propósito de Inveja - uma novela académica.
Um resto de bom dia!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Aos idiotas úteis


dos nossos dias, adeptos do relativismo cultural, deixo esta notícia colhida no DN. Escusado será dizer que não vi nem verei o video.
Eu sei de que lado estou.
Do lado da ética partilhada de que falava Enzo Bianchi.
Na defesa do exercício da razão.
Eis a notícia:

"Sudão: Mulher chicoteada no meio da rua por usar calças

por DN.ptHoje

Um impressionante vídeo amador de uma mulher, no Sudão, a ser chicoteada pela polícia em nome da lei da moral Sharia, por estar a usar calças debaixo das vestes muçulmanas, foi parar à Internet e está a gerar polémica.

No vídeo, não aconselhável a pessoas impressionáveis, vê-se a mulher rodeada de homens, aos gritos, pedindo clemência, enquanto pelo menos dois deles, supostamente agentes policiais, a chicoteiam sem piedade.

Segundo o editor internacional do canal britânico SkyNews, que também divulgou o vídeo, estas são imagens raras de um acontecimento que é mais frequente do que se pensa."

Música com entrada livre


Eis três sugestões para evitar a melancolia e fruir estes tempos:

Dia 17, 21h30

Orquestra Sinfónica Juvenil - Basílica da Estrela

A Missa in Angustiis – para os tempos de angústia, de rigor – ou Missa de Lord Nelson, em ré menor, é uma das catorze missas escritas por Joseph Haydn. Foi composta em 1798, em Eisenstadt. É a décima primeira, composta no final da sua vida, entre o seu regresso de Londres, em 1795, e o fim da sua carreira de compositor, em 1802. Caracterizada por um constante ambiente dramático, a que não é estranho a tonalidade sombria de ré menor, trata-se da Missa mais popular do compositor. Na sua sonoridade característica é uma obra considerada, hoje, como o ponto mais alto da composição litúrgica de Joseph Haydn.

Obras: Kyrie; Gloria; Qui tolli; Credo; Et resurrexit; Sanctus; Benedictus; Agnus Dei; Dona



Dia 18, 16h00

Natal Barroco - Companhia de Ópera do Castelo - Igreja de Santo Agostinho (Marvila)

Este programa enaltece o Natal a partir de algum do mais extraordinário repertório com que o Barroco do norte da Europa nos presenteou. Em pleno século XVIII, a música sacra tinha um papel muito importante na sociedade. A Igreja como patrona das artes em geral, da música em particular, incumbia compositores importantes de “secularizar” em música o Evangelho. As obras sacras propostas - de Johann Sebastian Bach, Georg Philipp Telemann e Heinrich Ignaz Franz von Biber retratam os vários momentos que antecedem o nascimento de Jesus Cristo até à adoração do menino, com uma música sacra não apenas pelo conteúdo dos seus textos, mas pela grandeza, expressividade e fé nela expressas. O conteúdo dos textos usados por estes compositores aliados a uma música de uma beleza e fé impressionantes é uma mensagem tocante com séculos de riqueza espiritual e esperança.

Obras: Johann Sebastian Bach: Ária da Paixão segundo São João BWV 245 - Ich folge dir gleichfals mit freudigen Schritten (Também te sigo Senhor, com passos alegres). G. Ph. Telemann: Trio sonata em Fá Maior; Lauter Wonne, Lauter Freude (Soem a Alegria e Felicidade). Heinrich Ignaz Franz von Biber: Sonata das Rozenkrant-sonaten (sonatas do Rosário), Sonata da Anunciação. Johann Sebastian Bach: Ária da Oratória de Natal (Weihnachts-Oratorium), BWV 248; FlöBst, mein Heiland, flöBst dein Namen (Transporta, Ó Salvador, o teu nome)



Dia 19, 16h00

Natal Europeu - Orquestra de Câmara Portuguesa - Igreja de S. Domingos

Num programa romântico que percorre várias correntes musicais do Velho Continente, a Orquestra de Câmara Portuguesa (OCP) oferece a música intensa da maravilhosa Serenata para Cordas do compositor russo Pyotr Ilyich Tchaikovsky. Para abrir o concerto, a vitalidade criativa de um dos maiores génios da música portuguesa, o compositor Joly Braga Santos: uma obra de contrastes e contagiantes ritmos convocadores de uma serenidade espiritual inefável. Um concerto comentado e apresentado pelo maestro Pedro Carneiro.

Obras: Joly Braga Santos: Concerto em Ré, para orquestra de cordas, op.17. Pyotr Ilyich Tchaikovsky: Serenata para Cordas em Dó Maior, op. 48

Boas músicas!

Desassossego,


o filme do dito, está em debate, hoje, às 14h, no afiteatro II, da Faculdade de Letras de Lisboa.
João Botelho estará presente e participará no debate, no qual estarão igualmente Fernando Cabral Martins, reconhecido epecialista pessoano (e que deu corpo a Pessoa em Conversa Acabada, de Botelho), e Mário Jorge Torres, cujos conhecimentos a nível de estudos fílmicos são particularmente singulares.
Com este painel de luxo, promete!
Se puderem, apareçam.
Eu vou estar por lá!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um anjo na capela do Rato


e um poema de Rilke:

Quem das legiões de anjos?
(Primeira Elegia)


Se gritasse, quem das legiões de anjos escutaria
o grito? E mesmo se, inesperadamente,
um deles me acolhesse no coração: sucumbiria à sua
existência mais forte! Pois o belo não é senão
o princípio do espanto que mal conseguimos suportar,
e ainda assim, o admiramos porque, sereno,
deixa de nos destruir. Todo anjo é espantoso.


E por isso me contenho e refreio o apelo
de um soluço obscuro. Então quem
nos poderia valer? Anjos, não, homens, não,
e os animais inventivos logo se apercebem
de que não nos sentimos muito em casa
no mundo das explicações. Resta-nos talvez
uma árvore na encosta, para vermos e revermos
todos os dias. Resta-nos a estrada de ontem
e o apelo mimado de um hábito
que por nós se afeiçoou, permaneceu e não foi embora.


E a noite, a noite quando o vento cheio de espaços do mundo
nos desgasta a face - para quem ela não saberia ser desejo e suave decepção,
ela, cuja proximidade pesa sobre
o coração solitário! Será mais leve para os amantes?
Juntos, eles apenas encobrem um para o outro seu destino.
Ainda não sabias? Lança o vazio aprisionado nos braços
para os espaços que respiramos! Talvez os pássaros sintam,
num voo de maior intimidade, o ar mais amplo.


Boa semana.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Uma pergunta


ao entardecer:
Se i capelli fossero sentimenti
Il vento cosa sarebe?

(Francesco De Gregori)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Vagueando


por aí, um qualquer remoto parente, talvez antecipando a minha costela americana, fixou a nossa graça no velho Oeste, com a simpática vaquinha (que inevitavelmente me traz à memória os Pink Floyd).

Twain, de novo!


Desta feita uma entrevista com yours truly no Diário de Notícias de hoje.
Aqui fica a informação para quem estiver interessado.
Quem queira ver um passo da entrevista, pode aceder ao espaço Galeria.
Boa semana!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O primeiro volume da biografia de Mark Twain



foi recentemente publicado.
Cem anos após a morte do autor.
Com os votos de um bom fim de semana, deixo-vos as linhas iniciais do texto que escrevi para o JL, esperando que vos estimule a ler as restantes:
Quem não se lembra de Clarence, o simpático e algo desajeitado anjo de Do céu caiu uma estrela, de Frank Capra?
Quando foi chamado à presença de Deus para ser incumbido da missão que lhe concederia as asas, pelas quais esperava há duzentos anos, Clarence estava a ler... As aventuras de Tom Sawyer. Será este livro que, no final do filme, o protagonista, George Bailey (Jimmy Stewart), irá encontrar entre as muitas notas que os amigos reuniram para o salvar. Clarence deixara aí o livro com uma dedicatória: “Querido George, lembra-te de que nenhum homem com amigos é um falhado. Obrigado pelas asas..., Clarence.”
Afinal, Frank Capra, o mais americano dos realizadores, teria de escolher o mais americano dos romances.
Com efeito, se, na poesia, Walt Whitman incorpora uma atitude e uma sensibilidade emblemáticas da jovem nação, poucos duvidarão que Mark Twain, e as suas celebradas criações – os jovens irreverentes, inocentes e livres Tom Sawyer e Huck Finn , reclamam esse estatuto na prosa.
Nascido numa época em que a Fronteira era uma realidade em aberto, Samuel Clemens/Mark Twain irá viver alguns dos momentos mais significativos da construção da identidade (histórica e mítica) americana: para além da experiência da Fronteira e o quotidiano no Oeste (secretário do governador do Nevada e jornalista em São Francisco), a emergência do conceito de Destino Manifesto (que, na sequência do imaginário e da retórica calvinistas, atribui à América um estatuto messiânico, ainda hoje reconhecível em certos discursos políticos), a corrida ao ouro, a construção do caminho de ferro transcontinental, a Guerra Civil, o assassinato de Lincoln, a chamada Idade Dourada (que ele toma como cenário para The Gilded Age), a crise económica, política e ética que se lhe seguiu (por ele satirizada em “O homem que corrompeu Hadleyburg”1), e a Era Progressiva, corporizada nessa figura singular que foi Theodore Roosevelt e que tanto contribuiu para a elevação do cowboy a uma dimensão mítica e para a sua incorporação no imaginário americano moderno (apesar da simpatia que Twain por ele nutria, Roosevelt não escaparia ao seu registo mordaz).
Tanto a mencionada actividade como jornalista, como o contacto que desde cedo manteve com as elites políticas e culturais do seu país, fizeram de Twain um intérprete único desse relevante segmento da História americana no qual a modernidade dá os primeiros passos.
Sendo ele um espectador e actor privilegiado desses tempos, e possuidor de uma mordaz ironia, não será de estranhar que o início da publicação da sua autobiografia tenha sido aguardado com tanta expectativa, em particular porque decorreram cem anos desde a data da sua morte.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

"Fora com as coincidências"



é o título de uma canção - uma canção de que gosto muito - de Martinho Lucas Pires & Deserto Branco, na qual se usa de um notável sentido de humor para desmontar várias situações de pretensas coincidências no nosso quotidiano.
Lembrei-me dela a propósito do meu romance.
Em várias conversas que tenho tido com quem já o leu, sistematicamnte emerge a questão: "O Fernando é o...", ou "O Hipólito é o...", ou ainda "A Cacilda é a..."
Curiosamente, consoante o ponto de vista, ou o lugar onde cada um se encontra, a conclusão (a identificação) é distinta, chegando a ser gente que eu nem sequer conheço.
Quando este romance foi escrito (há quatro anos, sim, há quatro anos, ainda antes de Pentâmetros Jâmbicos ter sido publicado, e de muitos episódios menores terem ocorrido entre nós), resumi a intriga a um amigo conhecedor dos meandros políticos, o qual, de imediato, exclamou: "Mas então o Francisco é o..." e seguiu-se o nome de uma personagem secundária do nosso universo político, que eu conhecia apenas de esporádicas aparições na televisão, e cujo percurso de vida ignorava em absoluto.
De facto, este romance é uma sátira, e as personagens que o povoam não são transposições para o universo ficcional de gente que por aí anda.
Acima de tudo, o romance não é uma tentativa de ajustar contas com quem quer que seja!
Como disse aquando do lançamento, não tenho contas a ajustar com ninguém.
Graças a Deus, a minha vida tem seguido um percurso em que isso, o ajuste de contas, não tem lugar.
Seria mais tranquilo ler o romance como se ele nos revelasse meras alteridades.
Não é esse o caso!
Como também referi aquando do lançamento, Inveja - uma novela académica é uma sátira, um sátira àquilo que somos, ao tempo que vivemos.
Daí a minha escolha do Instituto Camões (na altura ninguém diria que a Dra. Simoneta da Luz Afonso iria abandonar a sua direcção) como espaço privilegiado para inserir a intiga, já que ele seria, no contexto da acção, e só nesse, um signo de um declínio cultural (veja-se como Melanie C. usurpa o lugar de Regianni).
Daí que eu próprio me tenha satirizado nessas linhas (quem conheça o que escrevi, poderá detectar esse instante).
Daí que eu entenda este romance como um espelho que revela, a todos nós, facetas que gostaríamos de denegar.
O resto são coincidências, como escreveu o Martinho!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um texto muito amável


de Yvette Centeno no seu blog (Literatura e Arte) sobre o meu romance, depois daquele com que me honrou na Colóquio Letras.
Aqui vos deixo as primeiras linhas.
Podereis lê-lo na íntegra em: http://literaturaearte.blogspot.com/

Foi lançado um novo romance de Mário Avelar:
Inveja, uma novela académica, ed. Assírio e Alvim, Lisboa, 2010.
Não podia ser mais actual, no momento que vivemos, num país que celebra a República e os seus valores (como se os valores pudessem ser deste ou daquele modelo de sociedade e governação e não dos homens que deles se ocupam).
A estes valores de memória - que bem longe estão de quem os defendeu, por vezes com a vida, muitas vezes com o exílio e um sofrimento perpetuado - vem Mário Avelar chamar a atenção para "novos valores", os da geração que nascida e criada no post- 25 de Abril descobriu que viver a vida é melhor do que dar a vida- seja lá pelo que fôr- que a esfera do poder é aquela em que melhor poderão actuar - estudar para quê, se no interior dos partidos tudo se aprende e treina, bem depressa e melhor...e se progride social e financeiramente a uma velocidade nunca imaginada.It's all about business...
A República, os seus valores, a frase consagrada e já estafada de tanto uso da ÉTICA republicana...está hoje reduzida a um ávido olhar sobre cargos e lugares subsidiários disponíveis, possível distribuição por família ou amigos cuja obediência subserviente ficará mais do que garantida...enfim.
Estas são algumas das ideias que me atravessam o espírito enquanto leio o livro, com a tendência que tenho de não me desligar do mundo em que escolhi viver, também eu: o da Academia, outrora respirando vocações, hoje envenenada por impertinentes protecções e promoções.
Porque esta novela académica é na realidade mais do que isso: um subtil e cruelmente irónico, para não dizer caricatural, desenvencilhar do novelo político em que nos encontramos todos enredados. E não interessa discutir quando começou. Interessa é tentar ver quando acabará. Será ainda no meu tempo de vida? Dos meus filhos, dos meus netos?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ainda a propósito da amizade


e das boas companhias, aqui vos deixo um belíssimo texto (e food for thought) da autoria de José Tolentino Mendonça (que começa, aliás, por citar outro velho amigo, T. S. Eliot):


«Mas quem é que caminha a teu lado?». Quando me reencontro com esta pergunta, trazida por um verso de T.S. Eliot, penso quase sempre nos amigos. Um amigo, por definição, é alguém que caminha a nosso lado, mesmo se separado por milhares de quilómetros ou por dezenas de anos. O longe e a distância são completamente relativizados pela prática da amizade. De igual maneira o silêncio e a palavra. Um amigo reúne estas condições que parecem paradoxais: ele é ao mesmo tempo a pessoa a quem podemos contar tudo e é aquela junto de quem podemos estar longamente em silêncio, sem sentir por isso qualquer constrangimento. Tenho amigos dos dois tipos. Com alguns, sei que a nossa amizade se cimenta na capacidade de fazer circular o relato da vida, a partilha das pequenas histórias, a nomeação verbal do lume mais íntimo que nos alumia. Com outros, percebo que a amizade é fundamentalmente uma grande disponibilidade para a escuta, como se aquilo que dizemos fosse sempre apenas a ponta visível de um maravilhoso mundo interior e escondido, que não serão as palavras a expressar.

O modo como uma grande amizade começa é misterioso. Podemos descrevê-lo como um movimento de empatia que se efectiva, um laço de afeição ou de estima que se estreita, mas não sabemos explicar como é que ele se desencadeia. Irrompe em silêncio a amizade. Na maior parte das vezes quando reconhecemos alguém como amigo, isso quer dizer que já nos ligava um património de amizade, que nos dias anteriores, nos meses anteriores, como escreveu Maurice Blanchot, «éramos amigos e não sabíamos».

Aquilo de que uma amizade vive também dá que pensar. É impressionante constatar como ela acende em nós gratas marcas tão profundas com uma desconcertante simplicidade de meios: um encontro dos olhares (mas que sentimos como uma saudação trocada entre as nossas almas), uma qualidade de escuta, o compartilhar mais breve ou demorado de uma mesa ou de uma conversa, um compromisso comum num projecto, uma qualquer ingénua alegria…A linguagem da amizade é discreta e ténue. E ao mesmo tempo é inesquecível e impressiva.

Há aquele ditado que diz: «viver sem amigos é morrer sem testemunhas». A diferença entre os conhecidos e os amigos é a mesma que distingue um ocasional espectador daquele que está habilitado a testemunhar. Este último disponibiliza-se realmente a ser presença. Se tivesse de resumir a sua natureza, apetecia-me dizer: um amigo é alguém que foi capaz de olhar, mesmo que por um segundo apenas, o fundo da nossa alma e transporta depois consigo esse segredo, da forma mais gratuita e inocente. E nós retribuímos o mesmo. Em dois ou três poemas de Adília Lopes sublinhei, há tempos, isso. No idioma da poesia de Adília, a amizade era descrita assim: «busquei o amor sem ironia». A amizade, mesmo quando nos fartamos de rir e de alegrar com os outros, é esse transparente amor.

Tenho por uma grande verdade aquilo que escreveu o filósofo Paul Ricoeur: «para ser amigo de si próprio é necessário ter já vivido uma relação de amizade com alguém».


E que viva Clarence!

Boas companhias


Depois de uma manhã passada em boa companhia, num diálogo sobre poesia e pintura na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Nova de Lisboa, devido a um amável convite da Professora Paula Cristina Costa, outra boa companhia (o velho amigo Luís Guerra) mostra-me... em boas companhias, protegido por Helder Moura Pereira e Umberto Saba, e sob o olhar atento de Ruben A., Teixeira de Pascoaes, Fiama et al...
Nem toda a gente se pode gabar disto!
Como escrevi neste espaço ontem, o Clarence tinha razão!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Clarence, o anjo da guarda que lia Mark Twain,


no final de It's a Wonderful Life, de Frank Capra, oferece a George Bailey (Jimmy Stewart) The Adventures of Tom Sawyer.
No interior do livro deixou uma dedicatória:
"Dear George, Remember no man is a failure who has friends. Thanks for the wings, Love, Clarence."
Lembrei-me deste episódio ao ver hoje um auditório da Faculdade de Letras de Lisboa cheio de amigos do Professor Dias Farinha para assistir à sua última lição.
Últimas lições, um direito que a tradição académica reserva aos catedráticos que se jubilam... o que, com as reformas precoces, se tornou algo de raro.
A meditar: que caminho é este, de bolseiros e precários, que estamos a tomar?
É um facto que não foi a universidade bolonhesa que criou estas gerações.
Que universidade teremos nós no futuro quando os jovens turcos conseguirem, por fim, decapitar as inteligências que ainda persistem?
Nessa altura aplicar-se-á, por certo, a famosa declaração de Benjamin Franklin: A general happy mediocrity prevails.
Parabéns, António Dias Farinha!
Haja esperança!
Afinal, haverá ainda Clarences por aí em busca de uma oportunidade para ganhar as suas asas!

Ainda há espaço para iniciativas individuais...?


Ou, como furar o cerco!
Recebi esta mensagem sobre uma iniciativa de um director de uma instituição de ensino superior.
Ei-la:

Caros colegas,



Como todos sabemos as perspectivas para o próximo ano são pouco ou
nada animadoras em termos financeiros, quer para a instituição quer
para todos nós a nível pessoal.

Acresce ainda, que a nossa carreira tem sido das mais prejudicadas com
a ausência de regras que permitam a progressão em termos
remuneratórios a que temos direito.

Por isso, tomei a iniciativa e decidi que a partir de 1 de Dezembro
próximo, todos os docentes que prestam serviço no ISEL em tempo
integral, desde Janeiro de 2004, subirão de índice remuneratório
dentro da categoria a que pertencem, de acordo com as condições que
foram recentemente criadas.

Esta medida abrange mais de duas centenas de docentes do ISEL.

Tenho consciência que a decisão que tomei vai incrementar a pressão
financeira sobre a instituição, mas como penso que a aposta nos
recursos humanos é inquestionável para o desenvolvimento e excelência
da nossa actividade, assumo-a em consciência e em prol do ISEL, no
exercício das minhas funções e na expectativa de corresponder à
confiança que todos depositam em mim.



Despeço-me enviando as minhas melhores,



Saudações Académicas,

José Carlos Quadrado

Presidente do ISEL

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Registos de uma memória


A primeira vez que ouvi Lucio Dalla cantar "L'anno che verrà", estava a década de setenta a chegar ao fim.
Emocionou-me na altura como hoje ainda me emociona.
Talvez pela importância que nela assumem as pequenas, banais, e, como tal, relevantes coisas do nosso dia-a-dia.
O registo é o de uma carta.
Pode ser uma carta para outro ou outra.
Eu, cá por mim, acho que é para nós próprios... principalmente quando nos esquecemos de dar valor à (pretensa) banalidade.
Aqui vos deixo as palavras desta carta, para ler, ouvir e meditar:

"Caro amico ti scrivo così mi distraggo un po'
e siccome sei molto lontano più forte ti scriverò.
Da quando sei partito c'è una grossa novità,
l'anno vecchio è finito ormai
ma qualcosa ancora qui non va.

Si esce poco la sera compreso quando è festa
e c'è chi ha messo dei sacchi di sabbia vicino alla finestra,
e si sta senza parlare per intere settimane,
e a quelli che hanno niente da dire
del tempo ne rimane.

Ma la televisione ha detto che il nuovo anno
porterà una trasformazione
e tutti quanti stiamo già aspettando
sarà tre volte Natale e festa tutto il giorno,
ogni Cristo scenderà dalla croce
anche gli uccelli faranno ritorno.

Ci sarà da mangiare e luce tutto l'anno,
anche i muti potranno parlare
mentre i sordi già lo fanno.

E si farà l'amore ognuno come gli va,
anche i preti potranno sposarsi
ma soltanto a una certa età,
e senza grandi disturbi qualcuno sparirà,
saranno forse i troppo furbi
e i cretini di ogni età.

Vedi caro amico cosa ti scrivo e ti dico
e come sono contento
di essere qui in questo momento,
vedi, vedi, vedi, vedi,
vedi caro amico cosa si deve inventare
per poterci ridere sopra,
per continuare a sperare.

E se quest'anno poi passasse in un istante,
vedi amico mio
come diventa importante
che in questo istante ci sia anch'io.

L'anno che sta arrivando tra un anno passerà
io mi sto preparando è questa la novità"

Uma Presença


"I reverence God as my creator. As creator of the world. I reverence him with holy fear. I venerate Jesus Christ as my redeemer; and, as far as I can understand, the redeemer of the world. But this belief is dark and dubious."[John Quincy Adams, sexto Presidente dos Estados Unidos da América]
Uma boa semana para vós... em boa Companhia!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Registo do rosto



No primeiro volume da monumental autobiografia de Mark Twain, que, segundo determinação do escritor, só poderia ser publicada cem anos após a sua morte, há um momento particularmente emocionante, aquele em que Karl Gerhardt, ainda um jovem artista, corrige o busto do General Grant na presença do seu modelo que se encontrava então às portas da morte, devido a um cancro na garganta.
Eis como Twain conclui o registo deste instante:
"To my mind this bust, completed at this sitting, has in it more of General Grant than can be found in any other likeness of him that has ever been made since he ws a famous man. I think it may be called the best portrait of General Grant that is in existence. It has also a feature which must always be a remembrancer to this notion of what the General was passing through the long weeks of that spring. For, into the clay imge went the pain whih he was enduring but which did not appear in his face when he was awake. Consequently, the bust has about it a suggestion of patient and brave and manly suffering which is infinitely touching."
Acrescente-se que Gerhardt havia já concebido o célebre busto de Mark Twain.

Avisos e conselhos


«‘Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim, porque és morno – e não és frio nem quente – vou vomitar-te da minha boca. Porque dizes: ‘Sou rico, enriqueci e nada me falta’ – e não te dás conta de que és um infeliz, um miserável, um pobre, um cego ... – aconselho-te a que me compres ouro purificado no fogo, para enriqueceres, vestes brancas para te vestires, a fim de não aparecer a vergonha da tua nudez e, finalmente, o colírio para ungir os teus olhos e recobrares a vista. Aos que amo, eu os repreendo e castigo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.’ Ao que vencer, farei que se sente comigo no meu trono, assim como Eu venci e estou sentado com meu Pai, no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.»

Livro do Apocalipse 3,1-6.14-22.

'Um conselho: «O silêncio abre a capacidade de receber Deus, começando por abandonar nas suas mãos o que somos, com as nossas fraquezas e neuroses».' P. Antoine de Augustin, formador no Seminário de Paris, in Pastoral da Cultura

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Registos do quotidiano


"Leaving aside the mysteries and the inequities of human talent, brains, taste, and reputations, the matter of art in photography may come down to this: it is the capture and projection of the delights of seeing; it is the defining of observation full and felt."
Walker Evans

Boa semana!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Impressões de Paris


Quando, ainda jovem, Edward Hopper estudou em Paris, o movimento da cidade impressionou-o, nomeadamente, pelo contraste face a Nova Iorque.

Eis um excerto de uma carta escrita em Novembro de 1906 e endereçada à mãe:

"The people here in fact seem to live in the streets, which are alive from morning until night, not as they are in New York with that never-ending determination for the 'long-green', but with a pleasure-loving crowd that doesn't care what it does or where it goes, so that it has a good time."

domingo, 7 de novembro de 2010

É tão fácil detectar os defeitos alheios




e, todavia, tão difícil detectá-los em nós próprios. E depois, quando os detectamos, superá-los.
Com este tipo de discurso até parece que estou com paleio tipo new age, segredo, confissões de facebook, etc.
Ora, estes devaneios surgiram-me ao ler um texto do mesmo autor que ontem aqui inseri, o Padre Dennis Clark.
Uma vez mais o cito.
Quem quiser ler o texto na íntegra pode recorrer ao site da Pastoral da Cultura.

'Aquele que está para além de todos os nomes conhece o teu nome

Há uma lenda do Oriente sobre um viajante que se dirigia para uma grande cidade. Uma noite conheceu dois outros caminhantes. Um chamava-se Medo e outro Calamidade. Calamidade explicou ao viajante que, quando chegassem ao destino, esperava-se que matassem 10 mil pessoas. O viajante perguntou a Calamidade se iria encarregar-se sozinho de toda a matança.

“Não, de todo”, respondeu Calamidade. “Eu só vou matar umas centenas. O meu amigo Medo acabará com os restantes.”

***

Quanto da nossa vida é morta ou roubada pelo medo? Não aqueles medos de coisas como um holocausto nuclear, mas medos pequenos e insignificantes que lentamente devoram as melhores partes da vida: Será que o novo professor me vai detestar? De certeza que eles vão gozar com o meu discurso? Vou reprovar no exame!

Mas o medo não é o único ladrão que se esconde dentro de nós. Há um exército inteiro de pequenos parasitas que nos podem enganar: ressentimentos causados por desfeitas ocorridas há muito tempo; zangas originadas por disputas fúteis; competição cruel por coisas secundárias; cortes de relações motivadas por teimosias acerca de questões irrisórias; decepções que debilitam toda a existência.

Como é que podemos escapar das garras deste ardiloso bando de gatunos?'

A fotografia acima é colhida em Positives, um livro do poeta Thom Gunn, com fotos do irmão Ander Gunn.

Um resto bom fim de semana!

sábado, 6 de novembro de 2010

Quando o fim de semana se inicia


deixo-vos este texto do Padre Dennis Clark, colhido no site da Pastoral da Cultura:

À procura do tesouro

Vivemos tempos em que o ritmo do desenvolvimento e da mudança é tão rápido e radical que nem sequer ousamos pestanejar com medo de perdermos algo importante. Só precisamos de pensar na palavra “Internet” ou “computador” para sentirmos o vento da mudança soprar na nossa direcção.

Nada disto aconteceu por acaso. Centenas de milhares de mentes brilhantes, criativas e laboriosas contribuíram para criar este novo mundo. E muito pouco desta evolução se realizou sem imenso esforço e sacrifício.

Quantas férias perdidas, quantas madrugadas passadas no escritório ou no laboratório foram gastas antecipadamente como preço das fortunas, aparentemente fáceis, ganhas na Internet? São incontáveis, como um número demasiado elevado de esposas nos poderia dizer.

Qualquer que seja o período histórico, o progresso nunca foi barato. A maior parte de nós reconhece os custos implicados no desenvolvimento secular, mas muitos permanecem cegos e insensíveis ao preço a pagar no desenvolvimento espiritual. Será, talvez, uma questão de prioridades? Talvez.


Bom fim de semana!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Independentemente das leituras



que se possam fazer, importa ter presente, não só que Luís de Camões encerra a sua epopeia com a palavra inveja, e que, desde o século VI, com o Papa Gregório VI, ela integra a lista dos sete pecados mortais.
Quanto mais não seja, devido aos seus ecos no subconsciente, convém não esquecer que, etimologicamente, "invidere" significa "não ver".
Isto é, não ver, desde logo, o nosso próprio rosto e aquilo que nos valoriza e distingue enquanto alteridades.
Só quem não se sente capaz de se auto-dignificar, pode sofrer deste constrangimento.
Em última análise é um pecado e pronto!

Representação artística e ajuste de contas...


Existem inúmeras representações da morte de Holofernes às mãos de Judite.
A que mais me fascina é a do pintor italiano Cristofano Alllori (nascido sob o signo de Balança em 1577 – 1621) que aqui reproduzo.
À partida, esta representação é idêntica às outras existentes. No entanto, um olhar atento detectará uma ou duas peculiaridades.
Uma delas prende-se com o rosto algo sofredor de Holofernes - inconsistente com o seu carácter de vilão -, assim como a sua cor - para quem acabou de ser assassinado, a cor indicia mais a máscara da morte do que a sua representação.
Outra peculiaridade é a expressão fria de Judite, interpelando o espectador, pouco condicente com os traços que, segundo a lenda, a caracterizam.
Ora, informam-nos os estudiosos que, afinal, o rosto de Holofernes é um auto-rtetrato de Allori.
Judite é Mazafirra, uma bela jovem pela qual o pobre do pintor esteve apaixonado, e que lhe fez passar as passas do Algarve.
Por fim, a criada será a mãe da jovem.
A sogra!
Foi esta a forma que Allori escolheu para dizer ao mundo quanto sofrera às mãos de Mazafirra.
Eu, cá por mim... se isto se tivesse passado comigo, na minha algo distante juventude, teria optado por deixar tudo na maior obscuridade (pública) possível.
Acima de tudo, não contribuiria para passar à imortalidade quem me proporcionara, como diriam os trovadores, "uma coita de amor."
Assim se ajustam contas!
A derradeira, sim, a derradeira ironia consiste no facto de se ter perdido o rasto do quadro original, e de hoje existirem apenas duas cópias, uma em Florença (comme il faut!) e outra em Londres (inevitável!).
Mas, mesmo em cópia(s), Mazafirra aí está para termos sempre presente que Morrisey tinha razão quando dizia: "Pretty girls make graves!"

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Convite


Na próxima segunda-feira, dia 8, pelas 18.30h, será o lançamento do meu romance, Inveja (uma novela académica).
António Carlos Cortez apresenta; Ana Marques Gastão lê um passo; Jorge Vaz de Carvalho interpreta canções de Serge Regianni, o cantor favorito do meu ignóbil protagonista.
Aqui fica o convite para que apareçam.
A livraria da Assírio & Alvim fica na Rua Passos Manuel, perto do largo da Estefânia.
Espero que gostem do livro!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

ficção científica


na Faculdade de Letras de Lisboa, entre hoje e sexta-feira.
Está já a ser um sucesso de participação.
Amanhã, às 16.45h, yours truly vai abordar Watchmen, o livro e o filme.
Até breve!